Responsabilidade ambiental
Caminhos para o ensino nas escolas
O mundo nos pertence... será? Nós pertencemos ao mundo... com certeza!
Somos parte de tudo o que existe e, como tal, responsáveis pela manutenção do planeta. Responsabilidade compartilhada, de todos e não apenas de alguns. Isso significa que cada pequena ação realizada, que melhore ou piore a situação do meio-ambiente, repercute globalmente. Isso significa, na prática, que desperdício de água, jogar lixo nas ruas ou usar produtos que intoxicam o solo e o ar são questões de interesse coletivo que devem ser pensadas em todas as comunidades, tanto por seus governantes quanto pela sociedade civil.
Como pensar soluções se não nos ativermos aos problemas, compreendendo-os desde seus fundamentos, em sua essência, buscando profundidade e examinando alternativas para resolvê-los?
E quem deve participar desta busca pela solução são só os adultos? O que cabe as crianças e adolescentes nesse importante e vital tema para a humanidade?
Sabe-se, por inúmeros casos reportados mundo afora, que uma criança ou adolescente que tenha ciência de problemas ambientais pode se tornar um importante vetor de mudanças em seu círculo mais imediato, em sua casa, escola, igreja, clube ou em qualquer lugar que circule.
Discussões realizadas em junho de 2019, na cidade de São Paulo, envolvendo especialistas de diferentes nacionalidades, abriu espaço para que alunos de ensino fundamental de uma escola paulistana assistissem parte das discussões e pudessem apresentar também suas ideias a respeito do problema do trânsito nas grandes metrópoles. Isso envolve questões de mobilidade e sustentabilidade. Relaciona-se a emissão de poluentes no ar e ao uso de transportes públicos ou de alternativas de locomoção como bicicletas e patinetes ou a construção e incentivo ao uso de ciclovias. Quantas horas são desperdiçadas em congestionamentos todos os dias em São Paulo e outras grandes cidades brasileiras e mundiais? Qual o impacto econômico e ambiental destes congestionamentos?
Ações desta natureza, ou seja, que geram a inclusão de crianças e adolescentes em discussões de interesse geral são muito importantes para que este público perceba, se informe, se interesse e participe do debate.
O que, a princípio, pode parecer distante para meninos e meninas, é algo que está próximo por meio das mídias sociais, das famílias ou da escola. As discussões sobre meio-ambiente fazem parte do currículo escolar e, por meio de notícias apresentadas em diferentes meios de comunicação, chegam as famílias e, consequentemente, as crianças e adolescentes.
A visão deste público, acrescenta ao debate público em se considerando que, diferentemente dos adultos, para crianças e adolescentes, as amarras e impedimentos que são percebidos pelos adultos não os impedem de pensar mais livremente, a possibilidade de criar ou imaginar soluções que seus pais, vizinhos, professores ou outros adultos com os quais tenham contato, na maioria das vezes, não conseguiriam conceber.
Pode parecer por demais pueril, tanto a linha de reflexão deste artigo quanto as ideias que porventura este público possa trazer ao debate, já que o que buscamos são soluções em relação aos problemas do mundo real. Iniciativas empreendidas em algumas cidades, no entanto, nas quais as crianças podem, por exemplo, assistir e participar de sessões do legislativo ou, mesmo, substituir o prefeito e seus secretários, demonstram que as crianças e adolescentes entendem muito bem o que significa isso e a responsabilidade envolvida nestas ações em prol da coletividade.
Nos Estados Unidos, a urbanista Mara Mintzer numa palestra TED descreve a experiência da cidade de Boulder, no Colorado, em que crianças foram convidadas a ajudar o município a pensar soluções para áreas públicas, como parques e praças, em relação a organização, limpeza, áreas verdes, iluminação, brinquedos, bancos e outros recursos e instalações relacionadas a tais espaços.
Apesar da própria palestrante se mostrar cética em relação a esta iniciativa, o resultado foi muito interessante e prático, com a proposição de realizações que visavam atender aos interesses de toda a coletividade, desde as próprias crianças até adultos e idosos. Nesta consulta as crianças e adolescentes de Boulder foram envolvidos cerca de 200 alunos da rede de ensino local, da educação infantil ao ensino médio. Os alunos visitaram a praça que seria reformada, realizaram pesquisas de campo, estudos em grupos, contaram com a orientação dos professores e criaram soluções que foram adicionadas ao projeto e já implementadas naquele município.
Ao pensarmos nas questões ambientais e em outras temáticas primordiais para todos, e não envolvermos crianças e adolescentes, estamos excluindo cerca de ¼ da população mundial das decisões e planos relativos ao futuro em que este público estará ativo, no poder público ou na esfera privada, como os cidadãos do amanhã.
Neste sentido, compete a escola não apenas ter aulas sobre as questões ambientais, mas fomentar ações através das quais aquilo que a princípio seria apenas teoria se torna algo palpável, real, do mundo em que vivem estas crianças e/ou adolescentes.
As iniciativas devem se relacionadas a ações de preservação e conservação em todos os âmbitos, dos mais imediatos, como a escola, a casa e bairro em que moram os alunos, até a compreensão das implicações e práticas coletivas, relativas à comunidade, a cidade, ao estado, ao país e ao mundo.
Estudar com causa. Ter em mente realizações que vão além do papel, da tarefa escolar ou da avaliação. Propor ações de impacto, como por exemplo, verificar áreas que podem ser limpas pela ação coletiva dos estudantes, coleta seletiva de recursos descartados, campanhas de uso consciente da água, participação junto a câmara ou prefeitura para se manifestar em favor de causas ambientais (ampliação de áreas verdes, manutenção de parques, oferta de serviços de água e esgoto na cidade, limpeza pública...), desde que em consonância com o planejamento das escolas e professores e com o currículo, são excelentes ações para que o ensino seja mais efetivo e significativo, com resultados tanto no mundo real, através de medidas que impactem a vida social, quanto para a própria visão de mundo destes meninos e meninas a quem iremos legar o planeta em breve futuro.
Parece utópico? Não é. Talvez tenhamos, como nos ensinam as crianças, que tirar as vendas que como adultos colocamos em nossos olhos, que nos fazem sempre colocar barreiras no caminho que temos que percorrer e, acreditar que é possível fazer com que crianças e adolescentes participem e colaborem com sua pureza, criatividade e energia da construção de um mundo realmente sustentável e limpo.
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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