Dia da Recreação: Mas afinal, cadê o brincar?
O Dia da Recreação promulga o direito do brincar oficialmente desde 12 de setembro de 1957, após a Declaração dos Direitos da Criança. Reflita conosco sobre esse valioso tema.
Inspirado em autores que narram à docência e a prática educativa a partir de sua história de vida, nos quais mergulham em uma escrita de si, este texto busca referenciar as memórias, os acontecimentos e as novas experiências com o propósito de dialogar com a atualidade e as diversas maneiras que nos constituem como sujeito, neste caso, amplia-se os olhares dos profissionais e educadores sobre o potencial e a manifestação do brincar. Por isso, indaga-se: cadê o brincar?
A princípio, é uma questão que, do ponto de vista social e até mesmo entre as relações humanas, quando se pensa em criança, nos leva à compreensão de que o brincar é algo natural e que sua manifestação acontece diariamente.
No entanto, quando se investiga a natureza do brincar, sua potencialidade no ambiente educativo e as percepções quando aliadas a situações de recreação, pouco enxergamos a sua existência, embora faça parte do viver humano.
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O potencial da manifestação do brincar
Recordo-me que, em meados dos anos 90, brincando no interior da favela, entre vilas e vielas, o descer a rua arrastando caixas de papelão ou aqueles momentos em que brincar de pique-esconde, queimada, pular amarelinha, apostar corrida de bicicleta, de carrinho de rolimã, jogar adedanha eram modos de unir a vida cotidiana com as aprendizagens motoras, cognitivas e afetivas.
O narrar dessas experiências permite refletir sobre o potencial da manifestação do brincar, ora por meio de situações e brincadeiras que tinham objetivos expressos, ora também o próprio nascer do brincar de forma livre e espontânea. Até porque a criança brinca para brincar e nessa manifestação habita um corpo pulsante, sensível que interage com o viver criativo.
Cabe dizer que, diante desses momentos, crianças são crianças, sujeitos pensantes que vão expressar de diversas formas e maneiras. Onde o maior objetivo e pretensão é o desenvolvimento humano, em que aos poucos vão aprendendo a lidar com as frustrações, o ganhar, o perder, o machucar-se, o burlar, o ressignificar as experiências.
Neste sentido, vale pensar em ambientes seguros, mas, por se tratar de vivências e experiências que sujeitos precisam ser estimulados, permitindo que vivam com tranquilidade e vivacidade, não podemos entrar em um processo de culpabilização da própria infância, onde se retiram direitos em detrimento que, segundo os olhos de um adulto, colaboram para tais narrativas “deixei ele sem brincar pois pode se machucar”, “acabei com o parquinho pois não sabem usar”, “fizeram bagunça, estão sem recreio”.
Embora traga aqui as experiências sentidas em meados dos anos 90, na contemporaneidade, como crianças e adultos brincam? Por um lado, existe uma superproteção exacerbada que restringe o direito de brincar; por outro lado, há também a falta de estímulo, vivências e mediações entre adultos e crianças que cooperam para a não existência da manifestação de uma cultura brincante.
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O destaque do brincar entorno das políticas públicas
Brincar faz parte do viver humano e sua essência lúdica colabora para que a humanidade torne cada momento melhor. Se percebemos o destaque do brincar entorno das políticas públicas, como na Declaração dos Direitos da Criança (1959), Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Lei Diretrizes e Bases da Educação – LDB (1996) ao citar a constituição de uma Base Nacional Comum Curricular (2018) por sublinhar o brincar como uma experiência, solta-se os olhos para que este direito não seja impedido de existir, pois sua seriedade acompanha as práticas de educadores e professores.
Além disso, comemora-se também o Dia da Recreação, que promulga ainda mais o direito do brincar oficialmente, desde 12 de setembro de 1957, após a Declaração dos Direitos da Criança.
Na verdade, a partir dos reconhecimentos dessas políticas é necessário que sejamos educadores, profissionais e pessoas que potencialize e favoreça que crianças vivam a plenitude da infância, direcionando-as para o que é mais importante na primeira infância o direito de brincar, na rua, na praça, na cidade, no bairro, na escola, na favela, no interior da cidade, no alto da serra, no hospital, na clínica unindo as experiências e o cotidiano.
Acrescentando nesse debate situações brincantes que tem como ênfase a diversidade, os jogos e brincadeiras indígenas e africanas, a contação de histórias, os momentos de fabulação e imaginação. Logo, cadê o brincar? Ele é inspirado por educadores e professores na ação parceira, dialógica com as crianças.
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Jonathan Aguiar
Pós-doutor em Artes pela UERJ. Doutor e Mestre em Educação pela UFRJ. Autor dos livros “Educação, Lúdico e Favela”, “Os Excluídos podem Sonhar, Brincar e Criar” e “Jogos e Brincadeiras Africanas” publicados pela Wak Editora.
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