13 Reasons Why (Os Treze Porquês)
O que leva uma adolescente a tirar a própria vida?
A série 13 Reasons Why, da Netflix, trouxe à tona este questionamento ao apresentar a história fictícia, mas que poderia ser real, de Hannah Baker.
Quando tragédias desta natureza acontecem é recorrente este questionamento. Pais, amigos, professores, terapeutas e a sociedade em geral se debruçam sobre o tema. Querem buscar respostas e, ao mesmo tempo, apontar os dedos em alguma direção, atribuindo culpas ou responsabilidades a quem quer que seja.
Muitas vezes os problemas são atribuídos a família. Dificuldades de relacionamento, separação dos pais, falta de diálogo, distanciamento dos filhos quando deixam a infância e atingem a adolescência, cobranças excessivas, falta de carinho ou mesmo tentativa de suprir a ausência com compensações materiais são algumas das questões levantadas como prováveis causas relacionadas a um suicídio nesta faixa etária que tenha ligação com problemas no âmbito familiar, a partir de problemas dentro de casa.
Em alguns outros casos um drama tão intenso assim é percebido a partir das cobranças que a sociedade impõe aos adolescentes, ainda tão novos, mas já tão pressionados. Resultados escolares, esportivos ou de qualquer outra natureza, provenientes de comparações com irmãos, primos, amigos ou colegas de sala, ou mesmo atrelados a índices e rankings educacionais ou esportivos podem gerar grande estresse entre estes garotos e garotas. O fracasso e o insucesso, assim como qualquer tipo de frustração, não são encarados como possibilidades e isso pode ocasionar, infelizmente, o fim da linha para alguns.
Os modelos sociais de beleza, inteligência, desempenho, vitória, riqueza e outros valores construídos e veiculados pela mídia são igualmente opressores e podem causar desastres na relação do adolescente com sua autoestima. Não atingir uma determinada forma física, ter acnes no rosto, usar óculos, estar um pouco acima do peso, não ser popular ou ser considerado esquisito de algum modo são fatores determinantes para que algumas pessoas desta idade sofram, e muito, isolando-se ou tornando-se agressivas, agindo de forma a se considerarem de algum modo inferiores ou inadequados ao mundo em que vivem.
Quando ingressamos no universo específico da escola e das relações sociais do universo teen a situação ganha, então, contornos que são ainda mais dramáticos, pois os adolescentes buscam se integrar a grupos e tribos existentes no âmbito escolar e nas localidades por onde circulam, como bairro, clube, igreja e afins, e quando isso não ocorre, os resultados podem ser complicados para a família e os educadores. A rejeição, o bullying, a conturbada relação nas redes sociais, a agressividade que pode redundar em atos hostis na vida real ou virtual, os falsos amigos, a necessidade de parecer sempre perfeito e feliz, entre outras situações, constituem para quem está nesta faixa etária um difícil, por vezes impossível, caminho a ser percorrido.
Isso não quer dizer que a adolescência seja sempre infeliz ou amarga. As mudanças físicas, o organismo em transformação, os hormônios, a sexualidade, a infância sendo deixada para trás, a cobrança por maturidade que ainda não está estabelecida... tudo isso é, ao mesmo tempo, complicado e natural para quem está, aos 13 anos, entrando nesta fase da vida e que irá seguir com isso tudo até ultrapassar a barreira dos 20 anos. É possível passar pela adolescência sem tanto sofrimento e amargura se houver suporte, orientação, carinho e sensibilidade em relação a estes jovens.
Todas estas pressões sofridas pelos adolescentes no Brasil e no mundo, no entanto, se intensificaram a ponto de fazer com que indicadores de saúde relacionados a problemas como estresse, depressão, síndromes variadas, ansiedade, bulimia, anorexia, uso de entorpecentes, alcoolismo ou ainda assédio sexual, estupro, gravidez precoce e bullying, tenham se agravado consideravelmente ao longo dos últimos 10 anos. Pesquisas realizadas pela conceituada Universidade Johns Hospkins nos Estados Unidos revelam que 37% dos adolescentes daquele país sofrem de depressão. A ansiedade detectada no Brasil a partir de pesquisa da Universidade Federal do Paraná atinge 1 em cada 4 adolescentes. São índices muito elevados.
A série 13 Reasons Why, da Netflix, lançada em 2017 e veiculada pela internet, via streaming, ao trazer à tona o tema do suicídio adolescente de forma tão intensa, numa produção que teve grande alcance e repercussão, sendo difundida em todo o mundo, ocasionou situações como o aumento de 50% na busca de apoio por adolescentes juntamente ao CVV (Centro de Valorização da Vida) no Brasil. O conteúdo da produção, estruturada como uma série de suspense e drama, gerou críticas e, ao mesmo tempo, aplausos por parte do público e de profissionais interessados nas questões discutidas na produção.
A grande contribuição de 13 Reasons Why, no entanto, foi dada ao abordar de forma minuciosa, envolvente e polêmica, numa produção de qualidade, com alcance internacional, temática tão espinhosa e difícil. Colocar em pauta o suicídio adolescente e fazer com que tantas pessoas se debruçassem sobre a questão em diversos lugares do mundo. Afinal, por mais que falemos pouco sobre esta enfermidade silenciosa relacionada a tantos “porquês”, o fato é que, infelizmente, tanto as situações de estresse, ansiedade e afins estão se multiplicando entre nossos adolescentes e jovens, quanto, ainda pior, os casos de mutilação, violência sexual, bullying e, mesmo, suicídio teen, tem estatísticas em crescimento. É preciso fazer algo...
A Série
Mudar de cidade, entrar numa nova escola, perder o contato com os melhores amigos... tudo isso na adolescência, é algo que garotos e garotas não querem, definitivamente, ter que vivenciar. Mas, como a vida teen, neste momento, está atrelada aos pais, para onde eles forem, os filhos igualmente terão que se deslocar...
Hannah Baker está vivendo tudo isso e, é claro, se sente perdida na nova escola que passou a frequentar, sem saber ao certo em quem pode confiar. Os novos amigos que se apresentam vão, aos poucos, gerando ressentimentos e decepções. Os garotos por quem se interessa, por sua vez, querem apenas se aproveitar dela e, desde o princípio, a rotulam e a tratam de forma desrespeitosa e até mesmo um tanto quanto vulgar.
Clay, colega de escola e de trabalho parece, para Hannah, alguém com quem pode se abrir e, entre eles há até um certo clima para namoro. Pena que ele é muito tímido e o romance tem dificuldades para se estabelecer.
Os dias e semanas vão passando e as pressões aumentam. Hannah vai se sentindo cada vez mais sozinha e rejeitada, vítima de bullying e de assédio, situações que tornam insustentável a permanência nessa escola, entre estas pessoas... sem conseguir apoio da família e dos educadores, amargurada, ela se decide pelo suicídio...
Só que antes de executar o ato final, ela resolve gravar seu martírio em fitas cassete, para que não caiam na internet, isolando aí um dos fatores que agravaram sua depressão silenciosa. E estas gravações serão então repassadas, de mão em mão, entre as pessoas que Hannah responsabiliza por sua tragédia. São 13 fitas, para 13 pessoas, com todas as razões pelas quais ela chega a este ato extremo, organizadas de forma cronológica, a aumentar o suspense a cada passo entre quem ouve tais fitas, em especial seu amigo e postulante à namorado, o jovem Clay.
Intenso, com atuações marcantes, roteiro adaptado a partir de obra homônima com maestria para as telas, 13 Reasons Why já é uma série que entrou para a história e que precisa ser vista. Imperdível!
Para Refletir
1. A série 13 Reasons Why trabalha temas fortes, como a depressão, o bullying, o uso inadequado das redes sociais na internet e, até mesmo, o assédio e a violência sexual. Como as escolas se preparam para resolver questões tão graves em seu cotidiano? É preciso ter projetos sérios e permanentes, em constante processo de atualização com base em dados e estudos para que os educadores possam ajudar os adolescentes que vivem tais problemas. Acompanhamento por parte da orientação educacional, palestras com especialistas, reuniões com pais e outras ações preventivas são importantes. Quando casos forem detectados é preciso estar em constante diálogo com a família e buscar apoio profissional externo para dar o melhor auxílio possível para os alunos que estiverem precisando.
2. Permitir ou não que adolescentes assistam à série passou a ser uma preocupação entre pais e educadores. A recomendação dos especialistas é que, primeiramente, se verifique a indicação etária para saber quem pode ter acesso a este material (16 anos; em alguns países, como a Nova Zelândia, a Netflix teve que rever a indicação para 18 anos); depois disso é preciso que o material seja assistido por adultos antes dos adolescentes terem acesso a produção ou, no mínimo, que assistam juntos. A questão primordial é que a série é forte, tem conteúdo que pode repercutir no emocional dos adolescentes e, por isso, a recomendação de que pais ou responsáveis assistam juntos e utilizem o material para conversas em que posicionem, de forma madura, posições e argumentos em relação ao conteúdo transmitido.
3. A frustração, a derrota, o erro e as decepções fazem parte da vida de qualquer ser humano. É preciso trabalhar o emocional das crianças e adolescentes para que saibam lidar com este tipo de situação. Encarar com maior naturalidade passa por esta preparação que inclui, entre outras ações, no próprio mundo adulto, evitar destemperos, cobranças excessivas ou mesmo assédio moral em ambientes domésticos ou profissionais. O erro é uma oportunidade de crescimento, de maturação e pode direcionar as pessoas para o acerto se for usado de forma correta, ou seja, com espaço para reflexão e para reinício de ações.
Veja o trailer:
Ficha Técnica
- Título: 13 REASONS WHY
- País/Ano: EUA, 2017
- Duração: 13 episódios com aproximadamente 60 minutos cada
- Gênero: Drama
- Criador: Brian Yorkey
- Roteiro: Brian Yorkey, Diana Son, Elizabeth Benjamin
- Elenco: Katherine Langford, Dylan Minnette, Christian Navarro, Brandon Flynn, Alisha Boe, Justin Prentice, Miles Heizer, Ross Butler, Devin Druid, Amy Hargreaves, Derek Luke, Kate Walsh.
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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