O Curioso Caso de Benjamin Button

Com uma mensagem curiosa e tocante, o filme mostra que cada momento é precioso e que devemos aproveitar cada segundo, seja ele linear ou não


banner com o titulo do filme e com os rostos de Brad Pitt e Cate blanchett ambos interpretando Benjamin e Daisy.

Viver a vida ao contrário. Nascer velho e morrer bebê. Viver entre idosos, num asilo, sofrendo com as doenças próprias desta faixa etária para depois rejuvenescer enquanto todos os outros caminham na direção contrária. Premissa um tanto quanto anárquica em suas bases, mas que deu a produção “O Curioso Caso de Benjamin Button”, grande repercussão internacional tanto entre o público quanto entre a crítica.

Também, pudera, baseado em conto de F. Scott Fitzgerald, um dos grandes nomes da literatura mundial no século XX, e estrelado por Brad Pitt e Cate Blanchett, o filme emociona e intriga a todos, contando com elementos que certamente compõem a base do sucesso para muitas produções.

Tudo começa com a contratação de um famoso relojoeiro para construir o novo relógio para a estação de trem de Nova Orleans, durante os anos da Primeira Grande Guerra, quando o filho deste prestigiado especialista é mandado para os campos de batalha no front europeu.

A notícia da perda do filho, abatido durante os combates, e o retorno de seu corpo para os Estados Unidos não modificam o rumo dos acontecimentos e a encomenda do relógio da estação continua a ser cumprida, dentro dos prazos previstos para sua solene inauguração. Abatido, mas perseverante em sua ação, o relojoeiro consegue terminar sua obra e, durante o evento em que seu trabalho é mostrado ao público pelas autoridades, revela os rumos de sua tristeza através do relógio…

Obra magnífica em sua concepção visual e funcionamento, o relógio foi fabricado para girar ao contrário, ou seja, voltando as horas e não contando-as para a frente, como deveria. O sonho do relojoeiro era que tudo pudesse voltar no tempo e que seu filho, assim como todos os combatentes enviados para a guerra, pudesse não partir, tendo suas vidas preservado. Desolado, o relojoeiro sai de cena, mas o relógio, inédito e portentoso símbolo da não conformidade quanto a acontecimentos que gostaríamos de evitar a qualquer custo, é mantido na estação de trem de Nova Orleans…

Nesta mesma época nasce Benjamin, cuja mãe falece no parto e o pai, rico e destacado industrial de Nova Orleans, diante da imagem pouco provável de um bebê envelhecido, num surto de loucura, abandona o menino em frente a um asilo, para que sua história ali termine ou se inicie, se o mesmo lograsse sobreviver. Surge então Queenie, sua verdadeira mãe, aquela que o abraça como um presente dos deuses e resolve criá-lo apesar de sua tão distinta aparência.

Entre idas e vindas, o bebê cresce, se torna um menino velho, um jovem com cabelos brancos e atinge a idade adulta, na plenitude de sua saúde, em escala ascendente enquanto todos os demais adultos – idosos ou não – com os quais tem contato, envelhecem e morrem, e as crianças que conhece, entre as quais a bela Daisy, por quem desde o primeiro contato nutre real paixão, crescem e florescem ao mesmo tempo que ele na juventude…

“O curioso caso de Benjamin Button” não é apenas curioso, como denota o título da produção e da história original de F. Scott Fitzgerald. A produção do diretor David Fincher é sensível, bela, até mesmo poética em alguns momentos e, principalmente, nos enseja a repensar a vida, a aceitar o que é a princípio inaceitável, a desenvolver tolerância, a valorizar nossas existências, minuto a minuto…

Para Refletir

1. O tempo é uma das principais temáticas surgidas do filme “O curioso caso de Benjamin Button”. O que é o tempo? Ele de fato existe ou é uma criação humana? Qual o intuito de contarmos as horas, minutos e segundos? Já parou para pensar nisso? Talvez isso se relacione ao fato de sermos finitos, de termos conosco, ao abrirmos os olhos, um relógio a registrar o tempo que temos, diminuindo a cada vez que os ponteiros avançam, ainda que por segundos. O homem, a partir do momento em que percebe o alcance de sua existência passa não apenas a medir os ciclos da natureza e, com isso, entender o valor que cada minuto tem para as realizações pessoais e coletivas. Entender o tique-taque do relógio e não apenas observá-lo passivamente pode ser um ótimo exercício de reflexão filosófica e sociológica, que tal?

 

2. Biologicamente o que significa envelhecer? Sabemos que o corpo sofre transformações diversas ao longo da existência humana, inclusive que a partir dos 65 anos entramos na 3ª idade, ou seja, na velhice. Fala-se sobre isso na escola, de forma sutil, subliminar, como se envelhecer fosse algo distante ou, pior, em alguns casos, como se fosse algum tipo de doença a que todos estamos fadados. Não é. Trata-se de uma fase em que há evidente desgaste físico, proporcionado pelos anos de uso dos diferentes componentes de nossos corpos, também emocional e com algumas perdas em termos da capacidade de aprendizagem, no entanto, é o momento em que a experiência está exponenciada, ou seja, no qual há muito a ser compartilhado. As escolas precisam apreciar melhor este momento da vida, valorizar os idosos, aproximar os membros da “melhor idade” das salas de aula com o intuito de dividir o que viveram, aprenderam e que, certamente, pode ser muito valioso para as crianças e adolescentes. E, acima de tudo, explicar o que significa envelhecer a partir do ponto de vista da ciência.

 

3. Nossos atos e ações podem ser revertidos? A premissa inicial do filme “O Curioso Caso de Benjamin Button”, relacionada ao relojoeiro e a vontade de fazer o tempo voltar, para que impedisse seu filho de embarcar rumo à guerra, onde perdeu a vida, demonstra um pouco daquilo que é o arrependimento humano no que se refere as nossas ações ou omissões. Há o que fazer em relação ao que já aconteceu devido à nossa inação ou realizações já concretizadas? A resposta é bastante clara, ou seja, o que fizemos constitui a história, a jornada, o caminho percorrido por cada um de nós e teremos que conviver com seus resultados. Por isso mesmo é preciso pensar muito sobre as escolhas feitas em relação as trilhas presentes e futuras que iremos construir. O maior erro que cometemos é agir de forma afoita, sem perceber as consequências, por instinto, sem qualquer tipo de reflexão quanto ao que receberemos no futuro como paga pelo que fizemos. Isso se refere tanto ao que não deve ser feito por ser errado de fato, socialmente condenado, juridicamente passível de punição, quanto a aquilo que é moralmente é incorreto. Mas como tomar as decisões da forma mais justa, equilibrada e correta? Essa é uma discussão que, certamente, precisa ser levada para as salas de aula tanto quanto para as conversas em família...

Veja o trailer:

 

Ficha Técnica

  • Título: O Curioso Caso de Benjamin Button
  • Título original: The Curious Case of Benjamin Button
  • País/Ano: EUA, 2008
  • Duração: 155 minutos
  • Gênero: Drama, Romance, Fantasia
  • Direção: David Fincher
  • Roteiro: Eric Roth, Robin Swicord
  • Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Julia Ormond, Taraji P. Henson, Jason Flemyng, Tilda Swinton, Jared Harris, Elias Koteas.

João Luís de Almeida Machado

João Luís de Almeida Machado

Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

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