O presente e o futuro das Tecnologias Educacionais nas escolas
E o que nos espera para o futuro próximo?
As tecnologias educacionais invadiram as escolas, tomaram de assalto a realidade das salas de aula e, com isso, nos pedem análise, compreensão, interpretação, aplicação e reflexão quanto ao seu uso presente e futuro em educação. Para os especialistas é preciso, inicialmente, começar a conversa com clareza quanto a própria definição de Tecnologia Educacional e, até mesmo, da ordem das palavras nesta expressão no que se refere ao que são prioridades, prerrogativas e demandas maiores a serem atendidas. Por exemplo, há pessoas que pensam a tecnologia educacional como sendo uma área específica do trabalho educacional em que o foco está no estudo ou exame de ferramentas com objetivos relacionados a aplicação prática e ética visando a melhoria do aprendizado e do rendimento dos alunos e dos agentes educacionais (notadamente os professores e gestores) por meio do desenvolvimento, criação e organização de processos, metodologias e recursos tecnológicos.
A afirmação procede, mas é incompleta. É preciso, realmente que exista uma compreensão das ferramentas por meio de estudos e ações práticas através das quais os educadores possam compreender as ferramentas e metodologias da tecnologia educacional. Neste sentido tornam-se urgentes modificações nos currículos de formação de professores nas universidades, que ainda não contemplam de forma adequada estes saberes em construção. O aspecto ético destacado é relevante e faz também muito sentido tendo em vista que as escolhas feitas devem, necessariamente, atender a demanda das escolas, do processo de ensino e aprendizagem, da gestão escolar e, por outro lado, há os interesses das empresas e startups que criam tais recursos sem real inserção no mundo educacional com a finalidade de vendê-los no mercado. As redes de ensino, as escolas e os gestores, apoiados por seus docentes, precisam separar o joio do trigo, ou seja, escolher com conhecimento de causa o que realmente é necessário para seus afazeres e projetos educativos. Por conta disso as escolhas devem ser lícitas, éticas e, tal sentido, deve estar também presente na aplicação e uso dos recursos de tecnologia educacional. Quanto ao desenvolvimento, criação e organização de processos, metodologias e recursos tecnológicos, conforme mencionado, as ações são conduzidas por profissionais vários, de diferentes formações, isso é uma riqueza, a diversidade contribui para a construção de recursos valiosos, no entanto, como são destinados à educação, é preciso que mais educadores participem de forma efetiva nestes desenvolvimentos, trazendo os conhecimentos específicos que possuem quanto a realidade educacional e auxiliando na proposição de novas metodologias de ensino associadas ao uso das tecnologias educacionais. Destaco, porém, que a afirmação é incompleta pois as tecnologias são meios e não fins, são recursos, ferramentas, poderosos instrumentais que têm lugar cativo nas salas de aula e em todas as atividades humanas não devendo ser encaradas, no entanto, como arsenal que se estabelece em detrimento do que existia antes. É preciso fundir, acomodar, relacionar, aprender, incorporar e crescer com tecnologias e outros meios e processos de ensino e aprendizagem.
As escolas e redes de ensino buscam diferenciais tecnológicos para destacar seus trabalhos relativamente a competidores do mercado local ou regional. Isso é, também, algo que está acontecendo e que, por conta disso, merece atenção. Como atender esta demanda, mantendo-se atualizado e preparado para selecionar as melhores soluções tecnológicas para sua escola ou rede?
Há uma busca constante de novas soluções por parte de redes de ensino e escolas em todo o mundo, visando produtos e serviços em relação aos quais podem ser realizadas parcerias. Para tanto, é preciso acompanhamento por parte de especialistas, que sejam parte destas instituições ou que prestem serviços de consultoria, que participem de feiras, seminários e palestras, indo a empresas e startups, conversando com especialistas das universidades, para entender e acompanhar as tendências do mercado. Atualmente há lacunas importantes no mercado, em especial em relação à Educação Infantil e Ensino Fundamental I, mas a prospecção de novas tecnologias de qualidade aplicáveis a estes segmentos deve ser mantida, com vistas a perceber o que há de novo no mercado global e não apenas local, regional ou brasileiro. Hoje, quanto ao feedback, as ferramentas construídas ou contratadas são elaboradas para que ofereçam mecanismos de leitura de dados que permitam aos gestores e professores organizar as informações coletadas em relatórios e oferecer para as escolas parceiras. Os dados são, inclusive, oferecidos para pais ou responsáveis pelos alunos e também aos próprios estudantes, para que, com eles, medidas de orientação ou reorientação de estudos os auxiliem a melhorar seu rendimento, ter melhor comportamento, estudar com mais foco...
Mesmo com todos estes avanços há, ainda, focos de resistência ao uso de tecnologias nas escolas. Entre os vetores que de algum modo ainda dificultam a inserção de recursos de tal natureza nas escolas o principal destaque é dado, muitas vezes, aos professores. Há, evidentemente, uma evolução da resposta dos docentes em relação ao uso de tecnologias em suas aulas, mas o problema ainda persiste, em especial entre os profissionais que atuam no Ensino Médio, tendo em vista que preferem manter práticas e ações relacionadas aos processos usados regularmente por eles dentro de outro contexto, cultura e, mesmo, público-alvo. Não se pode analisar estas ações dos docentes como resistência, porém, como dificuldades e problemas nesta transição. Estamos em meio a uma mudança de cultura, que exige não apenas adaptação, mas estudo e prática, teorias novas, erros ao longo do processo, acertos e pequenas vitórias cotidianas. O mais importante, além de oferecer infraestrutura de boa qualidade, programas e aplicativos efetivos para o uso em sala de aula, é que a escola tenha projetos claros na área, especificados em seus princípios e no PPP (Projeto Político-Pedagógico) e, também formação constante para os professores. Oferecer formações presenciais e também por meio de AVAs (Ambientes Virtuais de Aprendizagem), com cursos em EAD e acesso a diferentes materiais pode ser um bom caminho para efetivar mudanças significativas no comportamento e na cultura dos docentes, em especial daqueles que são migrantes digitais, ou seja, que atuam profissionalmente desde antes do surgimento de todos estes recursos e da internet.
E o que nos espera em termos de Tecnologia Educacional para o futuro próximo? Esta pergunta está na cabeça de educadores, responsáveis por políticas públicas na área, estudiosos, pesquisadores e de toda a sociedade, interessada em verificar os avanços e os caminhos futuros da educação no Brasil e no Mundo. Em termos técnicos, especificamente, o que iremos assistir tanto no que tange à educação quanto a outros setores da vida humana é o advento de recursos nos quais a Inteligência Artificial esteja agregada, isso em se pensando as inovações que devem estar presentes no cotidiano nos próximos 5 a 10 anos. O uso de realidade aumentada, fab labs, makers, programação, holografia e a substituição progressiva de recursos como lousas convencionais ou livros em papel por projetores ou por material digitalizado enriquecido com muitos recursos, animações e conexões é algo mais próximo e imediato. A educação tende a fazer uma leitura cada vez maior dos dados dos alunos, personalizar ao máximo as experiências com recursos digitais e, incorporar as estruturas gamificadas em seu cotidiano nos próximos 2 ou 3 anos.
Penso que o maior desafio seja efetivar políticas públicas que contemplem uma educação conectada não apenas por meio do fornecimento de equipamentos, programas, aplicativos e ações isoladas, mas com formação plena para gestores e docentes para que entendam as ferramentas, aprendam a trabalhar com as metodologias ativas e apliquem estes novos saberes em suas escolas e salas de aula. As faculdades de educação precisam atualizar seus currículos e promover formações que permitam aos futuros educadores conhecer e aplicar as tecnologias e, ainda, optar por novas possibilidades profissionais na área da educação, como por exemplo, atuar como educador especializado na leitura de dados auferidos pelo Big Data da educação, das redes e escolas em que estiver ativo ou mesmo como pedagogo com formação em tecnologia educacional para gerir os processos da área em instituições de ensino básico ou superior.
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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