As principais perspectivas e tendências na Educação para 2023
Saiba quais são os principais pontos de atenção que formam o panorama da Educação neste ano.
Falar sobre perspectivas para 2023 em um campo tão multifacetado como a Educação, e em um país que teve experiências tão díspares neste ano que passou é uma tarefa extremamente difícil.
Para começarmos a conversar, precisamos desde já abrir pelo menos três campos diversos de atuação: o campo das promessas de inovações tecnológicas/digitais, o campo da ainda necessária recomposição da aprendizagem, em especial na educação pública, e o campo da perspectiva sobre algumas políticas públicas na educação, como a educação antirracista, a causa animal e a educação especial.
Sempre temos que ter em mente o fato de que o avanço das tecnologias digitais e metodologias no campo da educação é algo que foi muito estimulado no período pandêmico da Covid-19, e proporcionou um avanço considerável, não obstante outro fato doloroso: as perdas de aprendizagem de boa parte das crianças e adolescentes nestes últimos dois anos.
Por outro lado, a pandemia também descortinou algumas mazelas antigas da educação, como o problema da formação de professores – inobstante o trabalho heroico realizado por inúmeros professores deste país – outro tema que abordaremos neste artigo.
Neste sentido, e tratando em especial do movimento de avanço tecnológico digital na educação, há um certo foco em algumas tendências que já vêm sendo executadas no meio educacional. Vamos tratar de algumas neste texto.
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Tecnologias Digitais e Metodologias Ativas
Parece inevitável o avanço das tecnologias digitais no âmbito escolar. Isto não só se evidencia pelo aumento de artigos e livros sobre o tema, mas também pelo aumento de sua utilização nas redes privadas e públicas de ensino, além do fato de já estar sendo um movimento que estava ocorrendo na pré-pandemia.
Claro que ainda existem muitos desafios, como a criação de uma cultura em professores e alunos para utilização efetiva das tecnologias digitais e, para o caso das redes públicas, acresçam-se a infraestrutura necessária e conexões de internet estáveis e com banda suficiente, acessíveis aos alunos.
Na esteira das tecnologias digitais, as metodologias ativas de aprendizagem também se apresentam, cada vez mais, como soluções viáveis e factíveis, em especial porque não necessariamente precisam usar tecnologia digital.
Porém, mesmo que estejam atreladas a algum tipo de tecnologia digital, podem caminhar pari-passo com estas nas mudanças necessárias para o espaço da sala de aula.
No âmbito das metodologias ativas, parecem estar ganhando espaço o ensino híbrido (desta vez sem a pressão da pandemia), a gamificação, além do ensino por projetos e por solução de problemas, e a sala de aula invertida. E, claro, a Inteligência Artificial, que ainda se apresenta de forma tímida.
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Formação de Professores
A formação de professores é outro tema recorrente nas palestras e artigos de diversos pesquisadores e cientistas da área da educação. Claramente, não é tema recente, mas ficou evidente sua necessidade durante as aulas remotas e híbridas ocorridas por conta da pandemia da Covid-19.
Houve, claro, muito esforço da parte dos docentes neste país para dar conta de uma abrupta e inesperada mudança de rumos em seu fazer escolar, com muitos casos de sucesso. Mas, em grande parte, o improviso e a falta de formação (notadamente em tecnologias digitais) dificultaram muito a tarefa, quando não a impediram.
Neste sentido, a formação em tecnologias digitais e metodologias ativas de aprendizagem são de imensa importância, e podemos acrescentar ainda alguns temas da atualidade, como formações sobre a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), especialmente em termos de sua aplicabilidade.
Muito se fala sobre BNCC, mas não está claro ainda qual é o nível real de conhecimento sobre a Base por parte dos professores. Também está muito em evidência a necessidade de maior conhecimento teórico e prático sobre as Competências Socioemocionais, nosso próximo tópico.
Leia também: Formação de professores antes, durante e pós-pandemia!
Competências Socioemocionais
Um dos temas de maior recorrência nos últimos anos entra em 2023 com força total. Os efeitos da pandemia sobre a saúde mental de professores e alunos ficou bastante evidente nos mais variados recônditos escolares deste país, e ainda está presente.
A ausência de aulas presenciais por mais de 250 dias em variados sistemas de ensino provocou um grande efeito nas possibilidades de aprendizagem e, especialmente, fez grande diferença em termos das necessidades humanas de interação social.
Em termos dos alunos, quando se trata de dificuldades de aprendizagem, há sempre pelo menos um tipo de competência socioemocional em baixa. Em termos de professores e funcionários, também. Claro que estamos generalizando, e claro que há exceções em ambos os casos.
Diagnosticar e agir positivamente para trabalhar tais questões se torna cada vez mais urgente, em conjunto com os conteúdos. Em muitos casos, não há como trabalhar conteúdos sem o necessário background socioemocional, sem a escuta sensível e sem a intervenção necessária.
A ansiedade e a falta de perspectiva são dois grandes problemas que envolvem a saúde mental de todos da comunidade escolar, mas têm sido extremamente evidenciado em alunos. Não colocar tais aspectos em evidência no planejamento do ano letivo é incorrer em grande possibilidade de fracasso.
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Ensino Personalizado
Este é um tema tanto sensível como desafiador. A neurociência pedagógica já defende há muito a individualização do ensino, e a psicopedagogia clínica a pratica, com resultados efetivos.
Mas o grande desafio para este ano será exatamente o que já vem sendo aventado nos últimos anos: como fazer? E, mais precisamente, como fazer ensino individualizado em turmas de 40 alunos, com muitos alunos com necessidades especiais, e o professor – não raro – sozinho em sala de aula?
Não há, claro, uma resposta única para isso, mas um caminho cada vez mais presente como sugestão de ponto de partida é a individualização do registro e acompanhamento dos alunos, uma espécie de Plano de Ensino Individualizado, já usado com os alunos com necessidades especiais.
Um outro caminho a ser percorrido é o de identificar as competências pessoais dos alunos e utilizá-las em sala de aula, como forma de não só de motivá-los, mas de demonstrar que todos temos potencialidades, e que podemos usá-las de forma positiva em prol de todos.
Trabalhar em grupos também é uma boa forma de iniciar um trabalho individualizado, mesmo que em nível coletivo. Com pequenos passos gradativos, pode-se cada vez mais reduzir os grupos até que se chegue aos pares, e o processo de individualização do ensino estará cada vez mais próximo. Para tanto, as metodologias ativas de aprendizagem oferecem um razoável cabedal de possibilidades.
O uso de plataformas online, no âmbito das tecnologias educacionais, parece também ser uma boa forma de personalizar o ensino. Através destas, se pode obter avaliações, projetos e atividades de cada aluno de forma individualizada.
Recuperar, reforçar ou recompor?
Assisti recentemente a um vídeo em que a presidente do Conselho Nacional de Educação, Maria Helena Guimarães postulou uma frase lapidar: “não há como perder o que não se aprendeu”, em referência à necessidade de uma recomposição de aprendizagem aos alunos como consequência da pandemia da covid-19, ao invés de um mero reforço ou mesmo da recuperação da aprendizagem (como aliás preconiza a Política Nacional de Recuperação da Aprendizagem).
O movimento que se intensificou este ano que passou aqui no Brasil deve continuar com mais força no ano que vem, em que começaremos – talvez – a ver algum resultado efetivo em termos efetivos de aprendizagem dos alunos.
Claramente, alguns sistemas de ensino (notadamente os municipais e estaduais) foram mais afetados do que outros, o que demanda um maior trabalho dos professores em equilibrar a balança das perdas de aprendizagem, notadamente nas populações de mais baixa renda.
Leia também: Diferenças entre recuperação, reforço e recomposição de aprendizagens!
Educação Especial
O investimento em formação e capacitação dos docentes, além da contratação de maior número de Agentes de Educação Especial deverá ser a tônica deste ano, tendo em vista a cada vez mais crescente demanda de alunos especiais nos sistemas de ensino, especialmente nos sistemas públicos.
Este crescente público demanda atenção cada vez mais especializada e individualizada, para que efetivamente possa se pensar em uma inclusão eficaz e de qualidade.
Portanto, é uma curva ascendente que se instala sobre a necessidade do olhar cada vez mais profissional sobre o aluno com necessidades especiais. O que, claramente, exige uma política de contratação e formação de agentes capacitados.
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Educação Antirracista
Outro movimento que têm alcançado cada vez mais o meio educacional é a educação antirracista. Cada vez mais presente nos temas de seminários e congressos pelo Brasil afora, representa um movimento que, assim como a educação especial, só tende a crescer, dada a sua importância em termos da sociedade e da redução das práticas racistas por parte desta mesma sociedade.
Talvez a melhor forma de propor uma educação antirracista seja postulá-la através de um ensino transversal, da mesma forma que nosso próximo tópico: a causa animal.
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Causa Animal
Ainda ocorrendo de forma muito incipiente e, apesar das dificuldades – a educação sobre boas práticas com os animais também vem acontecendo de forma crescente, em especial nas redes públicas de ensino. Infelizmente, ainda são poucas redes que privilegiam este tema, mas isto também vem aumentando.
Reduzir o abandono animal e as práticas de crueldade, o tráfico ilegal de animais silvestres e outros temas devem ser trabalhados com mais ênfase neste ano, em especial devido ao acordo que variados países fizeram em relação ao meio ambiente no ano passado.
Um exemplo neste sentido é realçar que cuidar da causa animal implica diretamente na manutenção dos biomas, tendo os pássaros um papel crucial neste aspecto. A perversa prática de aprisionar pássaros por “hábito cultural” precisa ser combatida, para o bem do próprio meio ambiente. E o papel da escola é único neste sentido.
As Perspectivas e a Realidade
Fica claro através deste pequeno texto, em que podemos muito facilmente ter deixado algumas perspectivas importantes para trás, que toda esta demanda retratada necessitará de muito trabalho e investimento.
Qualquer uma das situações aqui expostas demandarão planejamento, trabalho e investimento por parte dos sistemas de ensino, além, é claro, da vontade política, mesmo que seja a vontade político-pedagógica.
Sem tal vontade e sem os recursos necessários, serão apenas meras perspectivas, sem chance de se tornarem realidade. E, neste sentido, o panorama da Educação não será tão colorido quanto se anuncia. O que torcemos é que seja o mais colorido possível, no âmbito da diversidade tão anunciada e tão necessária na Educação.
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André Codea
Professor da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Escritor e palestrante em Neurociência Pedagógica, Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Pós-graduado em Gestão Escolar e Anatomia. Autor do livro “Neurodidática –Fundamentos e Princípios”, publicado pela Wak Editora.
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