O Fim do Enem
Sonho, verdade ou fake news?
A notícia caiu como uma bomba nas principais redações de jornais, informativos da internet, rádios e noticiosos da TV: A partir do próximo ano o governo não irá mais realizar as provas do Exame Nacional do Ensino Médio.
Pensou-se, a princípio, que fosse mais uma Fake News.
Alguns jornalistas argumentaram que poderia ser uma notícia plantada pela oposição para prejudicar o governo.
Até mesmo em vírus a serem disseminados em todos os computadores com a disseminação de uma notícia tão bombástica foi tema das conversas entre as pessoas.
O envio da informação era, no entanto, oficial. O Ministério da Educação do Brasil, a partir de documento encaminhado pelo próprio ministro, informava que a avaliação deixaria de existir, que não seria mais aplicada, que cumprira o que dela se esperava e que, por conta de uma grande modernização no setor educacional, seria substituída por processos muito mais justos e eficientes para a realização da seleção para as universidades públicas do país.
O governo pedia alguns dias para que viesse a público divulgar o que pretendia para substituir o Enem. Nesse meio tempo começaram muitas especulações por parte de especialistas, jornalistas, políticos, professores e pela população em geral. Os mais assustados e preocupados, no entanto, eram os estudantes...
Modelos usados no estrangeiro começaram a ser analisados nas colunas dos principais jornais do país. Tecnologias utilizadas para auferir resultados que haviam surgido e eram base por universidades privadas foram também cogitadas. Alguns arautos deste novo presente relativo as avaliações de ingresso nas universidades tentavam propagandear suas ideias e criações, dizendo que o governo estava comprando ou plagiando suas produções...
O governo, no entanto, firmara que em 10 dias explicaria tudo o que estava por vir e afirmava que todo o restante era pura especulação, ou seja, que ninguém estava autorizado ou tinha informações para divulgar o que realmente seria feito após o fim do Enem.
O ensino médio e os cursinhos preparatórios estavam se sentido acuados, em xeque. As universidades privadas e as públicas que usavam o Enem como parte de seu processo de seleção também se mostravam atônitas e confusas, sem saber em que direção seguir. Alguns grupos educacionais destes segmentos ameaçavam processar o governo por perdas e danos.
Afinal de contas, o que estava por vir poderia significar não apenas o fim de um exame, mas de toda uma era, com a revisão de uma estrutura que perdurava a décadas. O Enem, assim como os vestibulares, fazia com que os alunos no Ensino Médio, tivessem como foco uma preparação forte para a prova de acesso e que, desta forma, deixassem de lado uma formação mais ampla, não apenas dedicada a conteúdos, mas também a valores e preparação real para a vida no mundo do trabalho e nas interações sociais.
Do mesmo modo que os detratores da mudança que estava por vir tentavam escurecer o horizonte, espalhando informações quanto a tempestade que se avizinhava, alguns grupos e profissionais pensavam que tais alterações poderiam ser o início de um tempo realmente novo, no qual a escola em seu ensino básico, se empenhasse mais na formação integral dos alunos, de olho nos saberes das diferentes áreas, mas de modo contextualizado, multi ou interdisciplinar, com maior ênfase em projetos relacionados a tecnologia e a cultura, por exemplo.
Os dias foram passando e as discussões na internet e na mídia não arrefeciam, num misto de curiosidade, temor e, em alguns casos, animação, dependendo de quem eram os envolvidos.
Chegado o dia, coletiva de imprensa convocada, sala de reuniões lotada, entram o ministro e seus assessores diretos para comunicar o fim do Enem e o que iria substituir esta avaliação nacional.
Os minutos iniciais da fala governamental foram dedicados a apresentar um breve histórico do Exame Nacional do Ensino Médio e também a agradecimentos a todos os que fizeram desta prova uma das maiores do mundo, sempre com bons resultados, apesar de eventuais percalços ou dificuldades, tendo em vista que aplicar uma avaliação deste porte, para milhões de alunos, realmente exigia uma logística e planejamento exemplares.
Passadas as preliminares, as explicações se deslocaram para o que entraria em cena a partir do próximo ano...
O governo criara um sistema, com apoio de alguns dos maiores e mais renomados educadores e cientistas do país, que por meio das tecnologias de informação e comunicação, numa rede integrada nacionalmente, iria acompanhar a vida escolar dos estudantes ao longo do ensino básico, desde a educação infantil, mas principalmente durante os anos do ensino fundamental e médio, realizando um levantamento inédito e colossal em termos de tamanho e movimentação de dados, sobre o histórico de todos os estudantes do Brasil.
O cruzamento de dados, usando modernos sistemas de inteligência artificial, visando entender cada estudante de modo personalizado teria como meta, ao final, selecionar os alunos e encaminhar para as melhores e mais alinhadas instituições em relação ao perfil de cada egresso e, também, com o interesse de, ao longo do processo formativo ir auxiliando todos os alunos do país a superar as dificuldades que demonstrem em relação aos conteúdos ensinados para que, com isso, os índices de retenção/reprovação ou de desistência/evasão venham a diminuir.
Para que o sistema viesse a funcionar de forma a garantir sua eficácia, as autoridades iriam desencadear, por meio de parceiros e universidades federais e estaduais, formações para os profissionais da educação, visando a compreensão do sistema como um todo e informando que, em alinhamento com a base nacional curricular, as aulas teriam acompanhamento de atividades online, já a partir do ensino fundamental, para aprofundamento, com recursos didáticos reunindo objetos educacionais, videoaulas, jogos educativos e demais recursos. Todos estes recursos seriam usados com apoio das escolas e famílias para que, com isso, os estudantes possam estudar de uma forma mais condizente com seus interesses e que, a ludicidade oferecida pela internet, torne ainda mais interessante a aprendizagem, os estudos e a busca pelo conhecimento. Isso tudo ajudaria, ainda, a compor dados e informações sobre alunos, turmas, professores, escolas e redes de ensino. O ingresso das redes de ensino privadas e de universidades pagas no sistema seria oportunizado a quem demonstrar interesse.
Após a divulgação, várias perguntas foram feitas pelos jornalistas e especialistas presentes e, os educadores e cientistas responsáveis pelo projeto entraram na sala para maiores esclarecimentos, enquanto o ministro e seus colaboradores mais próximos saíram da sala.
Uma nova era estava começando para a educação, não apenas no Brasil, mas no mundo todo... O que esperar, se perguntavam muitos dos presentes e milhões de brasileiros após a divulgação das notícias... Só o futuro dirá, afirmavam todos...
Obs. Acordei assustado após este sonho que tive, sem saber se isso de fato acontecera ou se era apenas um devaneio da minha parte... Liguei a televisão e...
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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