Leonardo Da Vinci, biografia de Walter Isaacson
Baseado nas milhares de páginas dos cadernos de anotação do artista e em recentes descobertas históricas, a biografia de Isaacson pretende mostrar a relação entre a arte e a ciência de Da Vinci
O século XV – de Leonardo, Colombo e Guttemberg – foi uma época de invenções, exploração e da disseminação de informações por meio das novas tecnologias. Em outras palavras, foi uma época como a nossa. É por isso que temos tanto a aprender com Leonardo. Sua habilidade em combinar arte, ciência, tecnologia, humanidades e imaginação persiste até hoje como uma receita para a criatividade. (Leonardo Da Vinci, biografia de Walter Isaacson, pág. 549)
“Simplicidade é o máximo da sofisticação”. Certamente você já ouviu esta frase. É possível que associe com a Apple e com Steve Jobs. Afinal de contas, toda a riqueza contida numa simples linha foi mote de campanhas publicitárias da gigante norte-americana da área de tecnologia fundada por Jobs. A frase, no entanto, faz parte do acervo de um gênio europeu, nascido na região da Toscana, criador de tantas outras realizações notáveis, Leonardo Da Vinci.
Tanto Da Vinci quanto Jobs foram alvo de um dos melhores biógrafos da atualidade, o norte-americano Walter Isaacson, que também escreveu obras notáveis sobre Benjamin Franklin e Albert Einstein.
“Leonardo Da Vinci”, livro lançado no final de 2017 (publicado no Brasil pela Editora Intrínseca), com suas mais de 600 páginas, logo se transformou num best-seller em todo o mundo, afinal de contas, traz à tona a história daquele que, para muitos, é talvez o homem mais inteligente de todos os tempos.
Leonardo foi inventor, artista plástico, escritor (não publicado na maioria dos casos), cientista, organizador de eventos, arquiteto e, inquieto como era, durante toda a sua vida queria aprender mais, incorporar novos conhecimentos, observar tudo o que acontecia ao seu redor para compor sua arte e seus escritos, suas construções e máquinas. Tudo o que fazia estava além de seu tempo, lançando novas técnicas e estilos, inconfundíveis, desde quando era apenas um aprendiz nos primeiros anos no atelier de Verrocchio, em Florença.
Frequentou a corte de poderosas e ricas famílias na Itália e também em Paris, na França. Produziu a obra de arte mais conhecida do mundo, a “Mona Lisa” e, também pintou “A última Ceia”, quadro celebrado nos quatro cantos do mundo.
A obra de Walter Isaacson busca informações de Leonardo desde seu nascimento e, com isso, ficamos sabendo que Da Vinci era filho bastardo de Piero Da Vinci, originário de família com algumas posses na região da cidade de Vinci, na Toscana, próxima a Florença. Sua mãe, Caterina, era uma humilde camponesa, que por conta de suas origens, não se casou com Piero, apesar do caso que tiveram e que gerou o nascimento de Leonardo. Tanto Piero quanto Caterina formaram posteriormente outras famílias e tiveram mais filhos, todos irmãos de Leonardo Da Vinci, por parte de mãe ou de pai.
Apesar de não ter se casado com Caterina, o pai de Leonardo sempre o acompanhou e ajudou ao longo de sua infância e adolescência, tendo inclusive auxiliado o filho a entrar nas escolas de pintura que veio a frequentar a partir de sua ida para Florença.
De acordo com Isaacson, o fato de não ser filho legítimo foi uma benção para Da Vinci. Caso fosse assim identificado a tendência, à época, era a de que Leonardo atuasse na mesma carreira do pai, ou seja, ele iria se tornar um escriturário e não passaria de um burocrata, sendo impossibilitado de ter tempo e estudar para compor suas realizações em todas as áreas em que atuou.
“Não havia nenhum outro lugar na época, e bem poucos ao longo da história, que oferecessem um ambiente mais estimulante para a criatividade do que Florença no século XV. Sua economia, outrora dominada por tecelões inexperientes, havia prosperado até se tornar um sistema que, como o nosso atual, mesclava arte, tecnologia e comércio.” (Leonardo da Vinci, obra de Walter Isaacson, pág. 4).
O fato de ser filho bastardo, por outro lado, na Itália das cidades enriquecidas pelo comércio no Mediterrâneo, como eram os casos de Florença e Milão, onde passou a maior p
arte de sua vida, não criava constrangimentos e significava liberdade para estudar e produzir. As cidades italianas, por sinal, abastadas naquele período, eram conduzidas por famílias poderosas, como os Médicis e os Sforzas, amantes das artes, mecenas que financiaram os trabalhos de grandes artistas da época, como Leonardo, Michelângelo, Rafael Sânzio, entre outros.
Conhecido mundialmente por obras de renome, como a “Mona Lisa” e “A Última Ceia”, Leonardo Da Vinci foi extremamente produtivo ao longo de toda a sua vida. Compôs obras notáveis nas artes plásticas, como as já mencionadas e famosas telas que compõem o acervo do Museu do Louvre, em Paris, e na igreja Santa Maria Delle Grazie, em Milão, mas o que poucas pessoas sabem é que o mestre Da Vinci escreveu e desenhou milhares de anotações que, ao longo das últimas décadas, vem sendo reunidas em cadernos, os Codex, nos quais aborda assuntos de tecnologia, ciência, arte, gastronomia e tantos outros temas.
Da Vinci viveu 67 anos numa época em que as pessoas dificilmente passavam dos 50 anos. Assumiu a homossexualidade ainda menino, nos ateliês em que aprendeu e desenvolveu seus dotes artísticos. Era alto para os padrões da Idade Moderna, tendo cerca de 1,75 metros. Belo e elegante, chamava a atenção por onde passava.
Desenvolveu projetos arquitetônicos, participou de concursos de arte, organizou eventos com efeitos especiais, criou máquinas de guerra, sonhou e desenhou aparatos para que os homens pudessem voar, foi vegetariano, teve restaurante e, até mesmo, criou a tampa para as panelas. Sua extensa produção está ainda sendo resgatada. Há obras de Leonardo sendo descobertas e escritos sendo organizados em livros.
Dizia ser um homem da ciência e da tecnologia. Estudou matemática e anatomia. Criou referências no que tange ao corpo humano em desenhos e estudos feitos a partir de um olhar acurado e preciso de corpos humanos, que segundo a lenda, seriam “emprestados” pelo gênio italiano diretamente dos cemitérios, assim que eram enterrados, para que ele pudesse ver, estudar e desenhar os detalhes das mãos, pés, pernas, braços, cabeças e tronco humanos. Dentre estes estudos anatômicos, por exemplo, surgiu a icônica obra “O Homem Vitruviano”, cujo dimensionamento é considerado próximo da perfeição por inúmeros especialistas.
“O que fez de Leonardo um gênio e o diferenciou do restante das pessoas que são apenas extraordinariamente inteligentes foi a criatividade, a habilidade de aplicar a imaginação ao intelecto. A facilidade em combinar observação com fantasia permitiu que ele, assim como outros gênios criativos, criasse saltos inesperados relacionando coisas existentes com outras jamais vistas. ‘Talento é acertar um alvo que ninguém acerta. Genialidade é acertar um alvo que ninguém vê’, afirmou filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Como ‘pensam diferente’, pessoas extremamente criativas são, às vezes, vistas como desajustadas, porém, nas palavras que Steve Jobs ajudou a escrever para um anúncio da Apple: ‘Enquanto alguns os veem como loucos, nós vemos gênios. Porque as pessoas que são loucas o suficiente para achar que podem mudar o mundo são as que, de fato, mudam’”. (Leonardo Da Vinci, biografia de Walter Isaacson, pág. 549)
Ao termos contato com os detalhes trazidos na obra de Walter Isaacson sobre Leonardo a admiração somente cresce e descobrimos detalhes relacionados a busca da perfeição e ao abandono prematuro de alguns projetos que poderiam ter legado a humanidade mais obras-primas deste grande gênio. Uma obra de muitas qualidades para falar sobre um homem além de seu tempo, cujas produções se tornaram eternas e referenciais em tantas e tão diversas áreas do conhecimento. Imperdível!
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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