Como lidar com a indisciplina escolar em sala de aula?

A indisciplina escolar é um dos principais problemas nas instituições e faz com que alguns professores se sintam angustiados e ansiosos. Saiba mais sobre esse tema a seguir.


Como lidar com a indisciplina escolar em sala de aula?

O presente texto tem como objetivo apresentar algumas possibilidades de como lidar com a indisciplina escolar na sala de aula. O material, além de estar embasado de todo o know how acadêmico do pesquisador que estuda o tema há mais de 15 anos, também está amparado na experiência empírica do autor que atua como docente na educação básica há mais de 30 anos.

Ao recorrer a uma plataforma on-line de busca de material acadêmico para averiguar as publicações nos últimos anos que abordaram o tema deste texto (indisciplina escolar) foi observado que o assunto ainda se faz presente em diversas publicações. Tal levantamento indica uma preocupação no meio acadêmico tanto para entender o que é indisciplina escolar como para lidar com situações indisciplinares quando estas acontecem nas relações pedagógicas dos docentes de diferentes componentes curriculares.

Apesar da indisciplina escolar ser um tema de grande relevância acadêmica e estar presente na fala dos diversos atores que permeiam os diferentes ambientes das escolas da educação básica, tal assunto não é exclusividade do século XXI. Em outros períodos ela também acontecia e era discutida, ainda que em menor escala. Alguns importantes estudiosos, como por exemplo o filósofo tcheco Jan Amos Comenius (1592-1670) – o pai da didática moderna –, no século XVII, e o francês Émile Durkheim (1858-1917) – considerado um dos fundadores da sociologia moderna –, no início do século XX, discorreram em seus textos preocupações em como manter a disciplina escolar.

No Brasil, o controle da disciplina escolar foi implantado concomitantemente com o início da educação neste país, ou seja, com a chegada do primeiro grupo de jesuítas no ano de 1549. Registros daquela época apontam a preocupação dos missionários com a questão da disciplina, pautada na vigilância constante e na utilização de métodos para contenção dos comportamentos indisciplinados dos discentes filhos dos colonos, indígenas e/ou negros. Dentro desses métodos de contenção/punição eram utilizados e permitidos naquela época, além da repreensão verbal, o açoitamento e a utilização da palmatória.

Outro indicador de que a indisciplina escolar não é exclusividade do século XXI foi encontrado em fragmentos arqueológicos descobertos no sítio de Athribis – um assentamento a cerca de 200 quilômetros ao norte de Luxor, no Egito – onde foram descobertas 18 mil peças de cerâmicas inscritas com detalhes da vida do Egito Antigo, incluindo peças desenhadas como punição por maus alunos que tinham se comportado de maneira inadequada para o espaço educativo daquela época. O medo da indisciplina escolar sempre existiu, seja 2000 anos atrás (no antigo Egito), no século XVII, XX ou na atualidade.

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A indisciplina escolar

A indisciplina escolar, para a grande parcela da comunidade escolar – todos os sujeitos que estão envolvidos com a escola, ou seja, corpo docente, gestores, equipe pedagógica, funcionários, alunos e família – é motivo de preocupação, visto que a ocorrência de problemas classificados como indisciplina causa, desconforto nas relações interpessoais, principalmente quando associados a situações de conflito em sala de aula. A indisciplina dos alunos, além de estar presente nas conversas informais dentro das escolas (seja nos corredores ou mesmo nos intervalos na sala dos professores), é assunto constante nas pautas das reuniões pedagógicas, indicando o estresse que tal fenômeno propicia na classe docente.

Ao pesquisar o assunto na literatura específica, pode-se encontrar diferentes considerações relacionadas a este tema, indicando que não existe um consenso entre os autores e, talvez por esse motivo, exista certa confusão de entendimento desse fenômeno pelos professores que atuam na educação básica. A variedade de opiniões é aceitável se a indisciplina escolar for considerada enquanto um fenômeno complexo, dotado de grande magnitude, cuja investigação deve considerar a existência de uma multiplicidade de fatores, tais como: questões sociais, familiares, escolares e pedagógicas, ou seja, tentar explicitar tal tema é um caminho mais tortuoso do que é discutido no senso comum, pois envolve uma gama de diferentes fatores que incidem sobre sua aparição na sala de aula gerando desconforto na relação pedagógica.

Segundo diferentes pesquisadores a indisciplina, além de estar presente em todos os componentes curriculares, é considerada como um dos principais problemas nas escolas e faz com que alguns professores se sintam angustiados e ansiosos antes de entrar na sala, durante e depois das aulas com turmas nas quais os atos de indisciplina acontecem constantemente. O desconforto na relação pedagógica, gerado pela indisciplina no interior das instituições de ensino, demonstra que as expectativas de alguns docentes, com relação a sua profissão, não estão sendo atendidas, gerando estresse, frustração e insegurança na sua prática pedagógica.

Esse estresse, frustração e insegurança são fatores que incidem sobre o fracasso dos professores dentro do ambiente escolar, levando inclusive a fazer com que alguns docentes desistam da profissão por não saberem lidar com tais situações.

Mas, afinal, o que é indisciplina escolar? Em outros tempos a indisciplina escolar era pensada somente como uma questão comportamental, e dessa maneira era resolvida, atualmente, pode ser entendida como atitudes de insatisfação que os alunos expressam quanto a uma situação ocorrida no processo pedagógico, na relação pedagógica entre os sujeitos escolares, ocasionada por diversos fatores. Entre esses fatores, é possível mencionar as relações que ali, na escola, se desenvolvem entre aluno x aluno, professor x aluno, aluno x escola, a insatisfação com o conteúdo desenvolvido, o currículo praticado etc. Podemos listar – como exemplo de atitudes de insatisfação – conversas paralelas, passividade na participação de atividades, respostas agressivas, não envolvimento em propostas pedagógicas, realização de tarefas paralelas ao conteúdo desenvolvido, utilização do celular sem autorização, entre tantas outras.

A indisciplina escolar deve ser pensada como um fenômeno muito mais complexo que aquele visualizado no senso comum e, portanto, percebida não como resultado de uma causa única, ou mesmo principal, mas como uma mistura de fatores que devem ser refletidos. Sendo assim, além de causas externas ao ambiente educacional, a indisciplina também pode ocorrer pelo próprio estresse originado na relação pedagógica. Compreender os motivos e sentidos da indisciplina torna-se de suma importância para realizarmos uma leitura mais completa acerca desse tema, tendo em vista que, a ausência da clareza, por parte de alguns docentes, pode intensificar e originar situações de indisciplina.

Diante do exposto, podemos pensar a indisciplina como as ações dos discentes – que podem ser originadas tanto por parte dos alunos como dos professores – que interferem na prática pedagógica, incidindo no processo de construção do conhecimento. Tais ações podem ser desde algo que tenha muita algazarra e mexa com toda a turma até uma atitude individual e de passividade de um educando que se negue a participar de forma produtiva da proposta pedagógica (como por exemplo, aquele aluno que permanece “quietinho” no seu canto sem fazer nada).

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Estratégias para lidar com a indisciplina

As cinco dicas enumeradas e contextualizadas a seguir, e permeadas por outras tantas, são algumas possibilidades para lidar com a indisciplina escolar. Tais sugestões não são apenas ideias teóricas de um pesquisador acadêmico que não foram utilizadas na prática pedagógica do dia a dia, pelo contrário. Foram e são utilizadas no cotidiano pedagógico do autor deste texto.

Primeira dica: o professor deve conhecer o conceito de indisciplina escolar. Para que possa lidar com situações de indisciplina é recomendado que o professor conheça não apenas o conceito que circula no senso comum e indica que apenas o aluno é o culpado, mas um pouco de sua discussão acadêmica para ter ciência de que situações de indisciplina podem ser geradas por diferentes fatores. Estes podem incluir tanto os discentes quanto o próprio professor e sua prática pedagógica. Tendo essa visão, o docente, além de saber diferenciar uma algazarra produtiva de uma algazarra improdutiva e indisciplinar (pois nem sempre barulho nas aulas significa indisciplina), não se sentirá tão angustiado quando tal fenômeno acontecer em sua aula, pois terá ciência de que a indisciplina sempre esteve presente no ambiente escolar, não sendo exclusividade de um ou outro componente curricular.

O docente também deve averiguar o que a escola considera e entende como indisciplina escolar. Alguns professores não se atentam ou mesmo não procuram conhecer como a instituição onde trabalham define e classifica situações de indisciplina escolar, quais os direitos e deveres dos alunos e quais os procedimentos recomendados pelo estabelecimento para lidar com situações que conflitam com a regulamentação disciplinar do colégio.

Para que as regulamentações e normatizações elaboradas pelo colégio sejam valorizadas pelos discentes, os docentes devem seguir o que ali foi combinado/determinado, caso contrário tal documento será desprestigiado e desvalorizado pelos alunos, não cumprindo seu objetivo que é padronizar algumas atitudes dentro do estabelecimento. Caso os professores – ou mesmo os alunos – não concordem com o que está determinado naquele documento, deverão, em momento oportuno, participar das discussões e reuniões para elaboração do documento e ali, nas reuniões que envolvem todos os participantes da escola, tentar colocar suas ideias em discussão e não apenas criticar o material sem propor uma melhoria.

Segunda dica: Expor e combinar o que pode e o que não pode nas aulas. No primeiro encontro com uma nova turma o professor e os alunos devem construir e determinar o funcionamento das aulas, ou seja, devem elaborar os combinados e determinar o que pode e o que não pode ser feito nas aulas.

Será o momento do professor, além de se apresentar para os alunos e eles se apresentarem; conversar e mostrar o que será desenvolvido naquele período (a proposta dos conteúdos que serão trabalhados); como é o seu jeito de dar aula (metodologia); quais serão os critérios e como serão as avaliações; entre outros itens que incidem nas aulas.

Feita a explanação inicial, é hora de abrir espaço para uma discussão junto com os alunos sobre as aulas. Cabe ao docente criar um roteiro para conduzir e organizar tal evento e não apenas lançar a ideia, mas envolver os alunos nesta construção e criar uma situação de comprometimento com o que for determinado naquele momento. Alguns itens podem ser discutidos e alterados para cada turma, criando uma identidade para aquele grupo (como por exemplo: o posicionamento das carteiras, o deslocamento dos alunos dentro da sala de aula; a sistemática dos conteúdos e de algumas avaliações; o momento de falar e realizar questionamentos, momento de tomar água ou ir ao banheiro etc.) e outros devem ser obedecidos por determinação do colégio (como por exemplo: uniforme, horário da aula, utilização do celular sem fim pedagógico etc.).

É o momento de discutir os direitos e deveres dos alunos na escola e nas aulas, de apresentar o conceito de indisciplina escolar, construir e mostrar para os discentes quais podem ser as consequências no caso de desrespeito aos combinados. Estas, as consequências, podem incidir na avaliação atitudinal do aluno e, caso acordado, até em comunicados aos responsáveis sobre as atitudes indisciplinares recorrentes dos discentes que atrapalham o desenvolvimento da aula.

Os combinados no primeiro dia de aula devem ser constantemente relembrados e cobrados durante o bimestre/trimestre para não caírem no esquecimento. Uma dica é deixar os combinados anotados no livro de chamada das turmas para não esquecer o contrato pedagógico de cada grupamento. Um contrato que não deve ser algo fixo e imutável, mas que pode ser alterado sempre que necessário e de comum acordo (professor e alunos) para melhorar a relação pedagógica no transcurso do bimestre/trimestre.

Terceira dica: Planejar a aula. Se um dos fatores geradores de indisciplina está na própria postura do professor que pode propiciar espaço para situações de indisciplina por não preparar suas aulas, cabe ao docente eliminar essa possibilidade e realizar uma das tarefas de ser professor, ou seja, planejar com antecedência o encontro pedagógico. Isso não quer dizer que as aulas serão amarradas a um planejamento fixo, mas que devem ter um norte para orientar as possibilidades pedagógicas que ocorram nas aulas.

Os alunos percebem, valorizam e respeitam as aulas e atividades quando o professor planeja sua prática, realiza conexões com outras aulas que já aconteceram, resgata que tal conteúdo foi apresentado no início dos encontros e segue os combinados. Ou seja, eles percebem quando o professor se preparou para dar a aula.

Alguns alunos, aqueles mais desafiadores (ou indisciplinados)¹, ao perceberem que a aula não teve um planejamento, e que o docente está improvisando, poderão, além de tumultuar e querer impor uma dinâmica para a aula diferente da pensada pelo professor, testar se o docente lembra o que pode ou não pode fazer na aula e se realmente seguirá os itens elencados, combinados e determinados no primeiro dia de aula. Quando os discentes percebem que o professor não segue o determinado no primeiro encontro, os combinados cairão em descrédito, e as aulas se tornarão mais estressantes.

Para evitar um desgaste desnecessário na relação pedagógica e amenizar a possibilidade de indisciplina é interessante que o docente, ao iniciar a aula, realize uma conexão do que já foi trabalhado nas aulas anteriores com o que será trabalhado naquele dia, indicando o que espera da turma e como a aula foi planejada para ser desenvolvida. Nessa hora, as observações realizadas no livro de chamada são importantes para não esquecer o que aconteceu nos encontros anteriores.

No final da aula, no momento de realizar a conclusão do encontro é a ocasião oportuna para conversar sobre os combinados, elogiar as posturas positivas, apontar posturas negativas e, se for o caso, realizar os acertos que foram combinados no primeiro encontro. Assim, o professor demonstrará que não esqueceu o que foi determinado com aquela turma, que valoriza os acertos e que está de olho nos alunos indisciplinados. É a hora de falar do que gostou e do que não gostou na aula.

Quarta dica: Envolver todos os alunos na prática pedagógica proposta para a aula. Para evitar que alguns atos de indisciplina na aula aconteçam nos momentos que os alunos ficam fora da atividade, as aulas devem ser planejadas de uma maneira que todos os discentes estejam realizando alguma ação voltada para a construção do conhecimento ou envolvidos, de um jeito ou de outro, com o objetivo proposto para aquela aula.

Caso não seja possível colocar todos os discentes simultaneamente para realizar as atividades práticas – seja  por falta de material para uma prática especifica ou de um espaço maior onde o docente não consiga organizar diferentes estações de trabalhos para que todos os alunos realizem atividades –, o professor pode envolver os discentes na proposta da aula de diferentes maneiras, tais como: realizando a organização dos grupos, analisando o comportamento dos demais alunos, avaliando um quesito proposto para aquela aula, organizando uma equipe, conduzindo uma discussão, entre outras possibilidades que não propiciem espaço para uma ociosidade que gere indisciplina.

Algumas estratégias são interessantes e podem funcionar para amenizar ou evitar a indisciplina no transcorrer das aulas, como por exemplo: sempre que o docente necessitar falar com o grande grupo é interessante combinar um sinal para que fiquem em silêncio (pode ser um apito, uma contagem, uma música, bater palmas, entre outras possibilidades); quando os discentes se aproximarem é conveniente que fiquem na frente do professor aguardando a explicação ou discussão que será proposta. Com todos em frente ao docente todos verão e serão vistos, postura que coibirá alguns atos de indisciplina, pois negará o anonimato.

Durante a aula o professor deve fazer-se presente, ou seja, mesmo quando os discentes estiverem realizando alguma tarefa, construindo alguma atividade ou discutindo algum tema, o docente deve circular entre os grupos e manifestar elogios, críticas construtivas, correções e apontamentos, indicando que ele consegue visualizar o que está acontecendo em sua aula.

Ao perceber que algum aluno, ou alunos, estão realizando atos indisciplinares, pode aproximar-se deles, chamá-los pelos nomes (negando o anonimato), questionar se tal atitude está de acordo com os combinados e envolvê-lo(s) com a proposta do encontro questionando-o(s) sobre o tema da aula. Com essa postura o docente demonstra que está atento às atitudes que não estão em acordo com a aula e com os combinados.

O professor também deve pensar em maneiras aleatórias e pedagógicas – e não apenas centradas na vontade dos alunos – para organizar duplas, trios ou grupos para realização de determinadas atividades práticas nas aulas. No momento que tal responsabilidade é passada para os discentes, sem um cuidado pedagógico, os alunos, inicialmente, tendem a ser excludentes negando a participação e socialização de algum discente que não pertença ao seu grupo. O momento da montagem e organização de grupos, caso não seja organizado com o olhar pedagógico do professor, pode ser – além de traumatizante para alguns discentes – propício para gerar situações de conflito e até mesmo bullying.

Outro momento que pode gerar estresse e indisciplina nas aulas é quando os alunos pegam ou devolvem os materiais que ficam em locais específicos da sala para realizar alguma atividade. Cabe ao professor, caso não tenha criado um combinado junto com os alunos, pensar em estratégias para evitar tumulto ou algazarra no momento de distribuir ou guardar os materiais, como por exemplo, realizar uma escala de equipes que distribua, recolha e guarde os materiais que serão utilizados em cada aula, um sorteio aleatório ou outra estratégia que evite transtorno nesse momento.

Ainda durante a aula o docente deve evitar, além de posturas que ressaltam o autoritarismo como gritar ou ameaçar os alunos, punir atitudes que ele acha inconveniente com castigos físicos e isolamentos. Um professor com competência e autoridade na condução de uma aula é cordial, tem senso de humor, conversa com os alunos e aceita ponderações para melhorar o processo pedagógico e não grita com os alunos exigindo silêncio.

Uma postura de autoritarismo pode gerar medo e submissão nos discentes e não disciplina escolar. Ao gerar medo, o professor pode afastar o aluno do processo pedagógico e estimular a passividade e a fuga das tarefas, criando um aluno quietinho, mas indisciplinado por se negar a participar do processo de construção do conhecimento.  

Quinta dica: compartilhar com os demais docentes da escola situações de indisciplina que ocorreram nas suas aulas. Partindo do pressuposto de que a indisciplina pode ocorrer em todos os componentes curriculares, o professor, ao retratar o que acontece nas aulas, não se sentirá isolado, incompetente ou angustiado quando esse fenômeno acontecer em sua prática, pois encontrará nos demais professores, além do conforto do grupo, outros relatos de situações de conflito e perceberá (ou lembrará) que tal fenômeno não é exclusividade de seu componente curricular.

Ao identificar e vivenciar uma situação de indisciplina na aula, o professor ao compartilhar tais atitudes com os demais docentes daquela turma ou escola pode propiciar que outros se identifiquem com tal fato e, caso não tenha solucionado a situação, encontrar no colegiado novas possibilidades para lidar com aquele ato de indisciplina ou mesmo retratar como resolveu determinada situação para que possa auxiliar outros professores.

Além de conversar com os demais docentes os professores devem participar das reuniões pedagógicas e administrativas que acontecem nas escolas para se inteirar das coisas do seu estabelecimento e discutir com todo o corpo docente possibilidades para tratar de situações de conflito que acontecem na escola.

Os docentes devem buscar capacitações que os mantenham conectados com ações inovadoras que acontecem no ambiente educacional. Ao participarem de capacitações voltadas para o ambiente educacional, seja para discutir conceitos – tais como a indisciplina escolar, a violência, o bullying – ou para vivenciar novas estratégias que auxiliam em suas práticas pedagógicas, o professor se mostrará receptivo às novas possibilidades que incidirão, de um jeito ou de outro, em suas aulas, e terão condições para refletir e analisar se os seus conceitos e métodos aprendidos em outros momentos, como na graduação, ainda estão atuais ou se é necessário optar por novos caminhos que intercedam positivamente em sua prática pedagógica.

Com efeito, docentes que utilizam abordagem metodológicas de maneira negligente, que não realizam adaptações para a realidade das turmas e que não constroem relação com o cotidiano dos alunos podem provocar a falta de interesse nos discentes – um dos fatores que levam à indisciplina. Sendo assim, alguns elementos da prática pedagógica dos professores podem ser geradores da indisciplina, tais como: propostas curriculares problemáticas e metodologias que subestimam a capacidade dos alunos, seja por apresentarem assuntos muito fáceis, seja por serem de pouco interesse; inadequação do tempo para a realização de atividades; centralização em excesso na figura do professor; pouco incentivo à autonomia e às interações entre os alunos; e uso frequente de sanções e ameaças visando ao silêncio da classe. Itens que são questionados quando os professores se capacitam e buscam novas maneiras para melhorar a relação pedagógica.

¹ Um aluno desafiador não é necessariamente um aluno indisciplinado, mas a postura dos desafios diante de uma aula não planejada pode gerar situações de indisciplina naquela turma, como por exemplo: conversas paralelas, brincadeiras desnecessárias, provocações individuais, negar-se a realizar uma atividade, entre outras possibilidades.

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Conclusão

A indisciplina escolar, além de ser um dos fatores que faz com que os professores recém-formados abandonem sua profissão por não saberem lidar com tal situação, é também um dos itens que mais faz com que os docentes gastem tempo dentro de uma aula. Os professores no Brasil, indiferente do componente curricular, utilizam aproximadamente 20% do tempo disponível de uma aula para lidar com situações de indisciplina (tais como: pedir silêncio para realizar a chamada, controlar as conversas paralelas no momento de uma explicação, pedir para algum aluno sentar-se, guardar um material que não é da sua aula, desligar o celular, entre outras situações consideradas indisciplina). Portanto, entender a indisciplina para saber lidar com ela torna-se essencial para que o docente consiga administrar sua sala de aula de maneira que tenha condições de utilizar o tempo para desenvolver suas propostas pedagógicas e não apenas para resolver situações de conflito, indiferente do componente curricular.

As dicas que foram elencadas neste texto são algumas possibilidades para lidar com a indisciplina nas aulas embasadas na experiência prática e teórica do autor. Não significa que funcionará igualmente com outros docentes, mas pode indicar caminhos para auxiliar os demais professores a encontrarem suas próprias maneiras de administrar a indisciplina em suas aulas e otimizar o tempo pedagógico com os alunos.

Partindo do pressuposto de que a indisciplina sempre permeou o ambiente escolar e pode acontecer em todos os componentes curriculares e com todos os professores, os docentes devem ter ciência de que tal fenômeno (a indisciplina) pode ocorrer (e ocorrerá) em sua aula, pois faz parte da cultura escolar, e deverá estar preparado para evitar ou administrar situações de indisciplina, quando elas surgirem em seus encontros pedagógicos. E foi levando esse contexto em consideração que neste texto foram apresentadas algumas possibilidades para os professores lidarem com tal fenômeno: a indisciplina escolar.

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Clovis Brito

Clovis Brito

Clovis Brito é professor na Educação Básica, graduado em Educação Física e Filosofia; Mestre e Doutor em Educação com Estágio de Investigação na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade de Porto, Portugal. Autor do livro Indisciplina Escolar, antigo problema, novas discussões (WAK Editora)

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