Educação para o pensar: uma transformação necessária
Entenda o que a BNCC diz sobre a Educação para o pensar, o seu real significado e como aplicá-la na prática com seus alunos.
Ensinar o aluno a pensar consiste em uma das maneiras de transformá-lo em cidadão pleno, capaz de ler, escrever e interpretar. Tão importante para o desenvolvimento, que “o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”, como ensinou Immanuel Kant.
As Nações Unidas proclamaram 24 de janeiro como o Dia Internacional da Educação para celebrar o papel da educação na paz e no desenvolvimento. No Brasil, além dessa data, comemora-se, no dia 25 de agosto, o Dia Nacional da Educação Infantil, desde 2012, com a promulgação da Lei nº 12.602/12.
No entanto, não basta que se criem datas comemorativas. Só haverá aprendizado significativo se o aluno aprender a pensar de forma autônoma. E a transformação desejada ocorrerá somente no instante em que ele aprender a ler e escrever, saindo do estágio de decifração de símbolos.
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Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a autonomia do pensamento
A BNCC, referência a ser seguida nas redes particulares e públicas de ensino, é um “documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidade da Educação Básica”, de acordo com o Ministério da Educação e Cultura (MEC).
Ainda que tenha por objetivo fortalecer as políticas educacionais, determinando quais os conhecimentos e habilidades devem ser desenvolvidos em cada ciclo, preocupando-se, ao mesmo tempo, com a manutenção de igualdade entre todos os aprendizes, não determina, em nenhum momento, a inclusão de atividades que contemplem o raciocínio lógico, de modo que desperte a consciência de nossos discentes para a necessidade de compreenderem o que leem, ou ouvem, não somente para passarem de ano na escola, mas para construírem um conhecimento sólido, essencial para que assumam seus papéis na vida e na sociedade.
Na área de Língua Portuguesa, por exemplo, indica que se trabalhe com diversos gêneros textuais, de acordo com a faixa etária, para que eles desenvolvam, entre tantas outras competências, a leitura crítica.
Esta, no nosso entender, constitui-se caminho para a autonomia do pensamento, já que estarão aptos a entender as entrelinhas e, dessa forma, prontos para analisar não somente os textos trabalhados em sala de aula, mas, principalmente, aqueles com os quais convivem no dia a dia, sejam discursos, políticos ou não, propagandas etc., e até mesmo as conversas que mantêm com outras pessoas, assim como as que ouvem.
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Exames para avaliação de estudantes e da educação - um comprometimento com a transformação
Embora haja na BNCC a instrução para que os alunos desenvolvam dez competências gerais no decorrer do processo educativo, e que cada uma delas engloba a “mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”, não há nada específico sobre o desenvolvimento da autonomia do pensar, e os resultados oficiais de alguns exames oferecidos aos alunos, como critério de avaliação da aprendizagem, não apontam um resultado satisfatório, nem a perspectiva de mudança.
Ater-nos-emos às provas realizadas na área de Língua Portuguesa, mas podemos adiantar que nas demais áreas ocorrem os mesmos problemas de aprendizado. Dentre esses exames destacamos:
Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) – o relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em 2018, indica que os alunos não obtiveram resultados satisfatórios na prova por não possuírem fluência e eficiência na leitura.
Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF) – constata que cerca de 11 milhões de pessoas, entre 15 e 64 anos, são analfabetas, ou seja, não conseguem ler ou escrever nem um bilhete simples, muito menos entender textos longos, localizar informações específicas, sintetizar a ideia principal ou comparar dois textos escritos.
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) – instituído, com o intuito primeiro de avaliar a qualidade do ensino médio, forneceu aos estudantes a possibilidade de frequentarem um curso superior por meio do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Sistema de Seleção Unificada (SISU) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), muito embora, em virtude da desigualdade das escolas públicas e particulares, atende a um maior número de pessoas em situação socioeconômica privilegiada.
Educação é sinônimo de transformação, de autonomia na forma de pensar e agir. Para se transformar, é necessário que existam mudanças de atitudes. Buscar um emprego que dê essa possibilidade é o caminho para a maioria dos nossos alunos.
No entanto, como a escola não consegue cumprir o papel que a ela compete, que é o de ampliar, gradativamente, o conhecimento dos alunos, muitos ficam de fora das melhores oportunidades de emprego também. Uma pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (NUBE) mostrou que 4 em cada 10 candidatos a estágio perdem as vagas por causa de erros de português.
Mas os resultados não serão diferentes ou não transformarão a realidade de nossos alunos se não houver investimentos em educação, não a educação bonita na teoria, que deixa tudo parecer muito fácil, mas na educação que forme um cidadão pleno, capaz de pensar por si só, de ter vontade de aprender, sabendo que o conhecimento é fundamental para que qualquer transformação ocorra.
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A Educação para o pensar na prática
A educação precisa transformar o ser humano, o aluno, do contrário não será educação, e sim uma série de medidas tomadas, sabe-se lá por qual interesse, mas que não contribuem para a formação do ser humano. Endossando as palavras de Paulo Freire, a educação não transforma o mundo, transforma as pessoas, as únicas capazes de mudar o mundo, por meio da educação.
Educar para pensar, diferentemente do que ocorre em nossas escolas, significa dar ao aluno a oportunidade de descobrir suas capacidades, romper os seus limites e permitir que desenvolvam o raciocínio lógico, em todos os aspectos: intelectual, emocional e social. Raciocínio negado no processo de ensino e aprendizagem, mas cobrado em exames como o PISA, o ENEM, em vestibulares, entrevistas de emprego etc.
Educar para pensar significa dar aos discentes a chance de serem protagonistas do seu processo educativo.
Para isso, a escola precisa oferecer-lhes atividades que exijam muito mais do que meras interpretações de falas de personagens e autor, ou procura de erros gramaticais e ortográficos, por dinâmicas de leitura que propiciem reflexões intelectivas, interação entre os interlocutores e os estimulem a utilizar o raciocínio lógico para localizar não somente as informações explícitas ao terem contato com o texto, mas inferir aquelas que dependem de análise apurada, posicionamento crítico e até mesmo julgamentos.
O professor necessita, quando estiver educando para pensar, levar em conta o conhecimento prévio dos alunos e não agir como se fosse o detentor do saber.
O mundo globalizado exige de cada um de nós esforços para a convivência em uma sociedade competitiva. Para que essa integração ocorra de forma satisfatória, o cidadão precisa saber ler e interpretar de forma plena, assim como pensar, falar e escrever de modo claro e objetivo, não sendo suficiente a decodificação de signos e a interpretação superficial dos textos ou problemas que surgirem.
Qualificar os alunos para o exercício da cidadania se traduz na meta de todas as pessoas envolvidas com a educação deles, o que significa prepará-los para a vida, de forma que consigam ler e interpretar os problemas cotidianos, identificando os próprios pensamentos e sentimentos, para que sintam-se parte de um mundo que eles ajudarão a construir e conservar, da melhor maneira possível, pois saberão ler, interpretar e entender as entrelinhas da vida, que podem ser, muitas vezes, semelhantes às tramas traçadas pela ficção, mas que exigem de cada um o desafio de olhar atentamente para cada linha vivida no dia a dia a fim de encontrar finais felizes.
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Referências
Agência Brasil. Analfabetismo cai, mas Brasil ainda tem 11 milhões sem ler e escrever. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-07/taxa-cai-levemente-mas-brasil-ainda-tem-11-milhoes-de-analfabetos. Acesso em: 10 jan. 2022.
Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Educação é a base. S.d. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 10 jan. 2022.
______. Inep/MEC 2021. Resultados do índice de desenvolvimento da educação básica | 2019. Disponível em: http://ideb.inep.gov.br/. Acesso em: 10 jan. 2022.
PISA. Programa Internacional de Avaliação de Estudantes no Brasil. Relatório Brasil no Pisa 2018. Versão preliminar. Disponível em:
https://download.inep.gov.br/acoes_internacionais/pisa/documentos/2019/relatorio_PISA_2018_preliminar.pdf. Acesso em: 10 jan. 2022.
Cida Simka
Professora e escritora. Licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Entre os livros lançados estão “Prática de Escrita – Atividades para pensar e escrever” e “O acordo ortográfico da Língua Portuguesa na prática”, publicados pela Wak Editora.
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