O novo desafio da gestão escolar: gerenciar as emoções no processo escolar
O atual cenário educacional requer adaptação dos processos de gestão. Saiba mais sobre como trabalhar as emoções com a sua equipe.
A gestão escolar, de tempos em tempos, descobre um novo sentido, um novo papel ou a reformulação dos sentidos e dos papeis existentes. Dessa vez, penso eu, o que está sendo pedido à gestão escolar é muito mais amplo, muito mais sério, muito mais desafiador, porque não se trata apenas de acertar um ou outro ponto da equipe ou do processo. Trata-se de uma mudança total no paradigma do trabalho pedagógico.
A BNCC já é uma realidade e, como tal, sua implantação requer total atenção às 10 competências gerais dedicadas ao ensino fundamental. Todas as competências gerais dizem respeito ao novo processo de conduzir a aprendizagem dos alunos no patamar onde se encontram: as crianças precisam de uma educação no tempo delas, do jeito delas e para o contexto delas.
Como a Gestão Escolar forma educadores
Mídias sociais, tecnologias, conflitos de ideias, protagonismo não são mais palavras da moda. São obrigações a que toda escola precisa se atentar e garantir à criança desse tempo.
Acontece que, para garantir isso às crianças, o gestor educacional precisa ter uma boa equipe, e essa boa equipe não existe pronta, não está disponível nem no mercado e nem na universidade.
No mercado há um conglomerado de profissionais que se dividem entre educadores e “em-pregados”. Educadores são aqueles que acreditam e fazem de fato a educação funcionar, tentando, planejando, refazendo, adaptando. E, do outro lado, em-pregados, como o próprio cerne da palavra determina: em – pregados.
Presos, martelados no lugar onde estão, sem mobilidade, resistentes. Nesse ponto, o problema se avoluma, pois a grande maioria daqueles que estão no contexto de uma sala de aula pode ser esse segundo grupo. E a pergunta então passa a ser: quem vai mudar essas mentalidades? Quem vai transformar esses em-pregados em educadores? Ou melhor, por que os em-pregados se tornaram tão volumosos no contexto educacional?
Eu poderia arriscar uma série de possibilidades, mas não quero ser o responsável por uma análise superficial ou irresponsável. Aqui, arrisco-me a dizer umas coisas: baixos salários, pouca valorização social, falta de formação e horas de trabalho não me são aceitas como justificativas para a negligência pedagógica. Isso é senso comum.
Eu creio e vejo que há um problema muito mais profundo na questão. Educadores são construídos na prática, no dia a dia da escola. Sempre será a profissionalização em serviço a mais adequada e salutar na formação de um educador. Todos os grandes educadores se construíram nos contextos onde estavam trabalhando. Ou seja, um educador é construído na lida diária, no ofício, e não no discurso, na teoria. Essas desencadeiam, não determinam.
O papel do Gestor Educacional
Novamente, o gestor entra como o ponto central dessa nova responsabilidade de transformação. Cabe ao gestor educacional olhar para aqueles que não estão prontos, não foram acabados e ainda precisam de lapidação, de retoques. Esse sim é o princípio da escola, o princípio da educação.
Se um educador é grande possuidor de conteúdos, mas não o é no trato das emoções e no gerenciamento dos conflitos entre pares, é o gestor educacional que deve fornecer apoio, auxilio, diálogo para a construção. Se o educador tem grande potencial humano, gerenciando conflitos, apoiando e acolhendo as crianças e os amigos de trabalho, mas não é um grande potencial intelectual, é também a gestão educacional que vai localizar essa falta e vai oferecer o que a este educador lhe falta. Quer dizer, é o gestor que precisa pensar naquilo que seu parceiro de construção educativa precisa. Só assim, uma equipe pode melhorar conjuntamente.
Somos melhores em grupo, em equipes, aprendendo juntos. Sozinhos somos frágeis. Há um desafio na BNCC que é primeiro convocar e comprometer o educador para essa nova possibilidade educativa para, depois, chegar aos alunos com suas propostas de acordo com o século vinte e um.
Depois de alcançada essa condição, é preciso que o gestor educacional tenha um projeto para esta nova escola do século 21 – a escola transformadora, aquela que coloca o aluno no centro do trabalho pedagógico e dá ao aluno condições de protagonismo social, as condições para o mundo atual.
Esse projeto é desafiador porque não pode mais ser feito por uma equipe de educadores e gestores. O novo projeto educativo coloca o aluno no meio das atividades de planejamento. Os alunos precisam participar das escolhas e das decisões da escola deles. Caso contrário, seguiremos fazendo uma educação necrosada para crianças vivas, cheias de potencial para transformação.
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Geraldo Peçanha de Almeida
Pedagogo pela UNESP, mestre em Teoria Literária pela UFPR e doutor em Crítica literária pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. Em 2020 passou a integrar a Academia Internacional de Literatura Brasileira, com sede em New York, onde tem Paulo Freire como patrono. Tem mais de 70 livros publicados, entre eles “Pedagogia da Delicadeza” e “Alegria de ensinar e aprender – ser professor na contemporaneidade”.
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