Educação para autistas: como sua escola deve se preparar

Conheça com mais detalhes o que é o Transtorno do Espectro Autista e como a sua escola pode ajudar os alunos com TEA a melhor se desenvolverem.


Educação para autistas: como sua escola deve se preparar

Para início de conversa, vamos abordar o tema autismo, contudo gostaria de deixar aqui uma reflexão sobre a inclusão não somente destes alunos, mas de todos os alunos que necessitam de um olhar diferenciado, de apoios diferenciados e do olhar empático do professor.

Para falarmos de TEA – Transtorno do Espectro Autista, precisamos perpassar por algumas colocações relevantes para entendimento sobre o mesmo e, a partir daí, ampliar o ato de inclusão e de suporte educacional nas escolas.

A Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2008 decretou o dia 2 de abril como o dia Mundial da Conscientização do Autismo; dessa forma surgiu a Campanha Abril Azul, para chamar a atenção e ampliar o conhecimento acerca dessa patologia. A cor azul foi escolhida porque o autismo atinge mais os meninos do que as meninas.

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O que é o Transtorno do Espectro Autista?

O Transtorno do Espectro do autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta principalmente a COMUNICAÇÃO e o COMPORTAMENTO, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM- 5).

A comunicação é a mais atingida em todos os autistas, ela afeta a interação social e a permanência em grupos, pois o diálogo e a troca verbal é alterada a ponto de não se fazer entendido ou não entender os demais.

Pesquisas apontam que o autismo é em 97% dos casos, genético. Em outros casos suas causas podem ser hereditariedade (87%) e causas ambientais (3 a 5%).

O comportamento é atingido na sua maioria pela comunicação, contudo há uma série de sintomas que interferem na interação social.

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Principais alterações do autismo e como ajudar os alunos

TEORIA DA MENTE: Dificuldade de entender o que o outro quer dizer através de sua linguagem não verbal, reconhecer sentimentos e expressões através de uma linguagem subliminar.

COMO AUXILIAR? O autista é literal, amplie seu vocabulário não verbal dizendo diretamente o que está sentindo e não use metáforas ou ditados populares.

DÉFICITS SOCIAIS: O autista não vive em seu mundo porque deseja, tem dificuldade em realizar interações sociais e trocas esperadas pelos outros sujeitos. O isolamento acontece por causa dessa dificuldade social, não por falta de interesse de fazer amigos.

COMO AUXILIAR? É interessante intervir na busca de movimentos sociais que possam entender como este aluno percebe o mundo e ampliar, através dos demais, uma interação mais saudável, respeitando seus limites e interesses. Nenhuma relação deverá ser forçada.

REPERTÓRIO RESTRITO DE INTERESSES E COMPORTAMENTO REPETITIVO: Autistas são tendenciosos a voltar sempre em assuntos que são de seu interesse, chamamos isso de hiperfoco, ou seja, falam repetidas vezes de assuntos que só eles têm um conhecimento amplo e rebuscado. Comportamentos repetitivos são chamados de ecolalia, quando verbais e estereotipias, quando físicas.

COMO AUXILIAR: É interessante que respeite os interesses, mas que o ensine a dialogar sobre outros assuntos e que perceba o interesse dos demais para se tornar mais sociável.

LINGUAGEM, COMUNICAÇÃO EXPRESSIVA E RECEPTIVA: Por causa das diversas dificuldades especificadas acima e pela dificuldade em interpretar e se fazer entendido, a comunicação é precária. Um autista pode falar e mesmo assim não se utilizar desta linguagem de maneira “adequada”, ou seja, como se espera em um diálogo ou em uma conversa formal.

COMO AUXILIAR? Nesses casos, é válido que se organize em meio ao diálogo para que o autista entenda sua hora de falar e consiga entender o que o outro está falando. É também interessante que não se utilize de palavras que não fazem parte do que o autista vivencia ou mensagens subliminares e até mesmo linguagem não verbal.

COM OU SEM COMPROMETIMENTO INTELECTUAL: Autistas, mesmo não verbais, podem ter inteligência além do esperado para sua faixa etária, possuem facilidade em aprender novas línguas e assuntos peculiares. Há também, àqueles que mesmo com linguagem adequada, com inteligência inferior ao esperado – atraso intelectual.

COMO AUXILIAR? Nesses casos o ideal é conhecer o nível cognitivo de cada um, para que possa intervir e deixar livre para demonstrar seus conhecimentos de forma individualizada, ou seja, que possa transferir seus conhecimentos sem ser de forma normatizada.

ATENÇÃO: A atenção é algo bem alterado nos alunos com o espectro. Eles não conseguem se concentrar em algo se à sua volta está muito barulho, com muita gente ou até com muito estímulo visual.

COMO AUXILIAR? É interessante reconhecer quais os estímulos que o deixam mais agitado para que possa concentrá-lo dentro de sua limitação. Não é adequado esperar dele um movimento de atenção se sua hiper dificuldade sensorial está alterada.

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Competências fortes do indivíduo com TEA

  • Memória visual;
  • Visualização espacial;
  • Ordenação;
  • Associações e padrões;
  • Memória imediata;
  • Rotinas.

 

Pessoas com TEA são niveladas a partir de necessidade de apoio nas atividades do cotidiano

NÍVEL 1 - Exigindo apoio.

- Auxílio INTERMITENTE de mediadora;

- Apoio nas comunicações e interações;

- Adaptação curricular baixa, pode não ser necessário o PEI;

- Apoio nas avaliações – retirada de textos amplos e descontextualização, apoio oral e escriba;

- Maior participação de eventos coletivos.

 

NÍVEL 2 - Exigindo apoio substancial.

- Auxílio EXPANSIVO de mediadora;

- Apoio intenso nas comunicações e em algumas situações, indução de comportamento;

- Currículo adaptado e redução de conteúdos de acordo com nível cognitivo e PEI;

- Possível redução de carga horária;

- Pouca participação em eventos coletivos ou redução do horário de participação.

 

NÍVEL 3 - Exigindo apoio muito substancial.

- Auxílio PERVASIVO;

- Indicada Classe especial;

- Pouca interação social, respeitando seus limites;

- Currículo totalmente adaptado e PEI;

- Redução de carga horária;

- Quase nenhuma participação em eventos coletivos.

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O que é Comorbidade? Quais transtornos sensoriais os autistas apresentam?

Todo transtorno que está acompanhando o TEA. Este sujeito tem o diagnóstico principal do TEA, mas tem especificidades de outros transtornos, 70% podem ter um transtorno comorbido e 30% podem ter até 2 transtornos comorbidos.

Sabemos também que indivíduos com TEA apresentam transtornos sensoriais e isso afeta a conduta com o ambiente, pois há uma alteração no recebimento de informações através dos sentidos, os exemplificamos assim:

HIPER-RESPONSIVIDADE: excesso de informação recebida pelo ambiente através dos órgãos dos sentidos. De acordo com Serrano (2016), as pessoas que apresentam hiper-responsividade sensorial tendem a sentir as sensações com mais intensidade, maior duração e mais tempo.

Podem apresentar condutas de ESQUIVA, FICA, AGITAÇÃO, IMPULSIVIDADE E AGRESSIVIDADE em escalas maiores. Podem ter consciência de suas necessidades sensórias e por este motivo, evitam determinadas coisas, objetos e comidas.

HIPO-RESPONSIVIDADE:  Sujeitos que tendem a sentir menos as diversas sensações do que outras pessoas. Podem não responder ao ser chamado, parecem em algumas situações não se importar com o ambiente ou com o que acontece com o mesmo. Apresentam poucas reações aos outros. Serrano (2016) afirma que estes sujeitos não apresentam consciência dos estímulos sensoriais, isto afeta a socialização e os tornam pouco exploradores. Tem pouca interação com o meio e são conhecidas como calmas e tranquilas.

Saiba mais: Ensino a distância para alunos autistas: dicas de como lidar com as dificuldades.

 

Outras informações relevantes quanto ao espectro autista

São pensadores visuais, ou seja, sua memória visual é melhor que a auditiva;
Necessitam de tutoria para realizar a maioria das atividades que exigem planejamento, estratégias metacognitivas;
Tem alteração em coerência central, que afeta o entendimento do todo e se prende à pequenas partes do todo, alterando a interpretação do contexto;
A parte de previsibilidade também é alterada, pois por causa desta afetação em coerência central, apresenta dificuldade em relacionar as partes ao todo;
A pessoa com TEA tem facilidade em se conectar com o ambiente e os objetos melhor que com pessoas.

Com base nestas informações, pensemos singularmente sobre os alunos com TEA. É necessário que, para cada aluno, haja uma proposta de inclusão e de atendimento individualizado. Observe também as habilidades e interesses para chamar sua atenção e ampliar seu engajamento.

Diminua o tempo de participação em aula on-line, marque um momento no dia para realizar uma ligação individualizada para aplicação de tarefas e para tirar dúvidas. Dê ao seu aluno voz, permita que o mesmo indique o que entendeu e o que precisa ser revisado, caso seja verbal e ofereça diariamente uma rotina visual ou escrita para que ele possa se planejar e finalizar as tarefas diárias.

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Referências:

JOIA, Michele. Inclusão de crianças na escola – o papel do educador diante das dificuldades de aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Ed., 2018.

JOIA, Michele (Org.). Manual de promoção e prevenção de saúde na educação – na escola. Rio de Janeiro: WAK Ed., 2019.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

ORRÚ, Sílvia Ester. Autismo, linguagem e educação – interação social no cotidiano escolar. 3. Ed. – Rio de Janeiro: WAK Ed., 2012.


Michele Joia

Michele Joia

Pedagoga. Psicopedagoga Clínica e Institucional. Educadora Especial, especialista em autismo, qualificada ABA. Professora e orientadora de Pós-graduação na área de Educação Inclusiva. Palestrante na área de Saúde e Educação. Atua em consultório com crianças com dificuldades especiais.

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