"Escola é para colocar aluno para dentro"
Quem cabe na inclusão?
Essa afirmação é do Prof. Raimundo Flor Monteiro, do SENAI Maranhão. Menino negro, pobre, morador de Bacabal, no interior maranhense, era pescador, e dos bons, ele garante. Até que um dia conheceu a Escola SENAI e se encantou com as máquinas. Matriculou-se e foi bom aluno. Ouviu a mãe, analfabeta e observadora, que o instigou: “Tem gente que lê livro e tem gente que é carregador de livro – o que você vai ser?”
Ele leu livros; foi mais longe ainda: tornou-se professor e obteve o título de Mestre em Pedagogia.
Viveu a inclusão, no começo sem nem saber o nome daquilo que fazia, seguindo sua mente e seu coração: observava o aluno, querendo conhecer suas condições de vida, entender seu comportamento, conquistar sua confiança para depois transmitir conhecimentos e valores, respeitando seu modo de ser e de aprender. “O professor reaprende com cada aluno”, afirma.
A vivência do Prof. Raimundo Flor, condensada nesta frase, soa ainda mais significativa no cenário atual, marcado pela discussão sobre a Meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE), objeto de contestação por um grupo de deputados e senadores.
Ao assim fazer, eles desrespeitam e atropelam o Projeto do PNE, aprovado na Conferência Nacional de Educação (CONAE), que foi construído com intensa participação de instâncias locais, estaduais até chegar à esfera nacional. Eles propõem o acréscimo de uma palavra – “preferencialmente” – aparentemente um detalhe, mas que na verdade muda totalmente o conteúdo da referida Meta.
Eles desrespeitam e desvirtuam também o artigo 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que trata do direito à Educação Inclusiva. A Convenção foi ratificada em 2008 com equivalência de emenda constitucional e está em vigor; ou seja, deve ser cumprida.
O desrespeito vai além e atinge parte significativa de famílias com filhos com deficiência e que optaram pela escola regular. O Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) mostra que entre 1998 e 2010 aumentou de 13% para 69% o percentual de alunos com deficiência matriculados na rede de ensino regular - ou seja, uma decisão explícita e consistente a favor da Educação Inclusiva.
O dia 3 de Dezembro é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Que cada um de nós, individualmente e através de entidades, associações, conselhos faça ouvir sua voz, alto e bom som, a favor da Inclusão!
Marta Almeida Gil
Consultora na área da Inclusão de Pessoas com Deficiência, socióloga, Coordenadora Executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, associada à Ashoka Empreendedores Sociais, colaboradora do Planneta Educação e colunista da Revista Reação. Autora do livro “Caminhos da Inclusão – a trajetória da formação profissional de pessoas com deficiência no SENAI-SP” (Editora SENAI, 2012), organizou livros, tem artigos publicados, participa de eventos no Brasil e no exterior. Áreas de competência: Inclusão na Educação e no Trabalho.
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