Dia do Profissional de Educação Física: Há o que comemorar?

Como está o nível de sedentarismo do Brasil? Como aumentar a prática da atividade física regular em nosso país? Reflita conosco sobre o importante papel do Profissional de Educação Física!


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Um pequeno histórico

Desde 2019, quando comecei minha série de escritos sobre a importância da atividade física na sua, na minha ou na vida de qualquer pessoa, venho recorrentemente tratando do assunto como uma questão de política pública de saúde.

A única exceção foi durante a pandemia, quando ficou evidenciado que pessoas que praticavam atividade física regular tinham taxa de morbidade muito menor do que as que eram sedentárias. Neste momento, passou a ser uma questão de vida mesmo.

Honestamente, eu esperava que minha ínfima contribuição, juntamente com os clamores de cientistas, de profissionais de Educação Física e mesmo de outros profissionais de saúde, tivesse alguma repercussão em termos de um aumento do número de praticantes e/ou da redução do número de pessoas sedentárias em nossa população.

Porém, nem mesmo a pandemia parece ter deixado algum legado neste sentido – como também não deixou em vários outros.

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Parece que evidenciar que a qualidade de vida é melhor em quem pratica atividade física regular, que as doenças são reduzidas, que as dores no corpo praticamente desaparecem, que aumenta a disposição física para as tarefas do dia a dia, soa como uns desses comerciais de produtos “mágicos”, baseado em “ervas naturais”, ou em um colchão maravilhoso que faz massagens, que vão, supostamente, fazer a mesma coisa.

Afinal, as pessoas que estão afirmando isso parecem com alguém “do povo”, com um “respeitado” pseudocientista que ninguém conhece, ou então é um artista conhecido. Ah, sim, aí convence. E esses produtos vendem, pois as propagandas são maciças e atingem um grande público que pouco sabe sobre atividade física.

Na verdade, parece que realmente este é o problema. A falta de propaganda sobre os benefícios da prática de atividade física. Me diga, você que me lê, vê propagandas sobre este assunto, ou mesmo um incentivo para a prática de atividades físicas de forma regular?

Parece não haver interesse nisso. Ou a força das indústrias de medicamentos impede, ou os governos parecem não estarem interessados nisso, ou os conselhos das áreas de saúde pareçam estarem mais preocupados em cuidarem das doenças do que em fazerem ações preventivas. Ou talvez tudo isso junto e algo mais que não está listado aqui. Vamos tentar entender melhor tudo isso.

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Entendendo melhor sobre o que está acontecendo

As últimas estatísticas sobre o assunto são ao mesmo tempo promissoras e frustrantes. Vou explicar. Uma das orientações mais conhecidas no âmbito da atividade física é a orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde), que preconiza como critério mínimo de benefícios para o organismo na prática de pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana (ou 75 minutos de atividade física intensa) (WHO, 2010).

Tendo esta premissa como base, vários estudos foram conduzidos no Brasil e pelo mundo afora, e veremos alguns deles.

Uma das mais recentes e que traz uma perspectiva longitudinal é a publicação da Vigitel (VIGITEL BRASIL, 2022), relacionada à frequência e distribuição da prática de atividade física nas capitais brasileiras.

 A grande contribuição desse trabalho, veiculado em agosto de 2022, é que trouxe dados comparativos coletados entre 2006 e 2021, e sua conclusão é que aumentou em 6,4% a quantidade de pessoas adultas que pratica atividades físicas, sendo este número maior entre mulheres do que entre homens. Algo a se comemorar, certo? Em termos.

Outra pesquisa, realizada um ano antes pelo Ipsos, uma das maiores empresas de pesquisas do mundo, comparou o nível de prática de atividades físicas em 29 países, ficando o Brasil em... último lugar! Com apenas 3 horas de atividade física semanal (a média global é 6,1).

No quesito quantos não praticam nenhuma atividade física semanal, o Brasil ficou em segundo (31% dos respondentes), atrás somente do Japão. Os principais motivos são falta de tempo e de dinheiro (CNN, 2021).

Por fim, para tirarmos qualquer dúvida sobre a gravidade da questão, o SESI (Serviço Social da Indústria) fez um estudo neste ano sobre prática de atividade física com brasileiros, e sua conclusão é assustadora: pelo menos 52% da população brasileira faz raramente ou não faz atividades físicas regularmente, e problemas de saúde atingem quase o dobro das pessoas sedentárias em relação aos que fazem atividade física (EBC, 2023).

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A grande questão: como mudar o quadro de sedentarismo deste país?

Obviamente, uma questão como essa não tem respostas fáceis, mas creio que algumas ações são de urgência para tentarmos reverter este quadro de sedentarismo que assola nosso país.

a) Campanhas de Saúde - este é um ponto visceral, pois não temos o hábito da prática de atividades físicas embutido nas famílias, em especial as de menor poder aquisitivo. O incentivo governamental a tal prática seria de muito auxílio para que as pessoas comecem a se ocupar com atividades físicas como mecanismo profilático de doenças e como melhoria geral da qualidade de vida. Este ponto está fortemente vinculado ao seguinte.

b) Políticas públicas - de uma forma geral, os governos têm políticas muito incipientes envolvendo prática de atividade física, ou mesmo não as têm. No primeiro caso, são apenas práticas locais, que pouco atinge a camada menos favorecida da população; no segundo caso, não são vistas como prioridade. Em nível nacional, o Ministério da Saúde possui o programa Academia da Saúde (PAS), que possui polos em várias cidades brasileiras. Porém, claramente, as iniciativas existentes são pouco frutíferas em termos da maioria da população.

c) Criação de uma cultura da atividade física - talvez a mais profícua das ações, mas que depende das duas anteriores, a criação de uma cultura da atividade física precisaria envolver os Conselhos Federais das áreas ligadas à Saúde, como a própria Educação Física, a Fisioterapia, a Nutrição, a Biomedicina, a Medicina, a Enfermagem, entre outras; a Educação, por meio das escolas, a Saúde, por meio dos postos de saúde, além de uma ação integrada em âmbito municipal, estadual e federal, respeitando as especificidades locais. Criar uma cultura não é algo fácil, não se faz somente com leis ou com ações isoladas. Mas é algo profundamente necessário. E urgente.

Então, respondendo à pergunta que é título deste artigo, eu responderia para mim mesmo que sim, temos que comemorar o Dia do Profissional de Educação Física. Mas, muito além de comemorar, precisamos urgentemente de ações que aumentem em nosso país os níveis alarmantes de atividade física regular que temos atualmente. Repito, é urgente.

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Referências

CNN Brasil. Brasil lidera ranking de países que menos fazem exercícios físicos. Disponível em: htps://www.cnnbrasil.com.br/saude/brasil-lidera-ranking-de-paises-que-menos-fazemexercicios-fisicos/. Publicado em: 05/08/2021.

EBC - Agência Brasil. Pesquisa revela que 52% dos Brasileiros não fazem atividade física. Disponível em: htps://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/notícia/2023-06/pesquisa-revela-que52-dos-brasileiros-nao-fazem-atividades-fisicas. Publicado em: 26/06/2023.

VIGITEL BRASIL 2006-2021: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de prática de atividade física nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal entre 2006 e 2021: prática de atividade física [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis – Brasília: Ministério da Saúde, 2022.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Global recommendations on physical activity for health. Geneva: WHO, 2010.


André Codea

André Codea

Professor da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Escritor e palestrante em Neurociência Pedagógica, Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Pós-graduado em Gestão Escolar e Anatomia. Autor do livro “Neurodidática –Fundamentos e Princípios”, publicado pela Wak Editora.

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