A voz do corpo docente: qual o papel da escola em relação aos seus professores?
Este texto visa trazer a importância da escola com relação à pessoa do/a professor/a. Entendemos que, ao assumir esta função é necessário um olhar para si mesmo.
Se perguntarmos, repentinamente, para alguém “o que é escola”? Provavelmente, de pronto e sem hesitar, nos responderá: “é um lugar onde se aprende a ler e a escrever”. Isto porque, revisitando a própria memória, foi o espaço onde efetivamente essa aprendizagem aconteceu.
No entanto, ao se referir a ela com uma devida análise, vamos perceber que a escola traz um conceito complexo por incluir uma série de propósitos a serem trabalhados “nesse lugar”.
Também é provável que se a pergunta fosse feita a um professor ou a um gestor, outras palavras seriam incorporadas a esse espaço físico, onde se dá além da leitura e da escrita, tais como: socialização, regras de convivência, ludicidade, aquisição de conhecimento, exercício de cidadania.
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Qual a função da escola em relação aos professores?
Historicamente sabemos que a instituição escola passou por muitos movimentos, modismos, e seu papel social também foi alterado. Muitos valores que eram exercitados em instâncias como a familiar e/ou religiosa, passou a ser cobrado das escolas.
O importante é deixar claro que, mesmo com suas funções alteradas, o papel de trabalhar para a construção do conhecimento e de repertoriar os sujeitos que por ela passam, para terem uma atuação diferenciada em suas sociedades, é sua função social principal.
Bem sabemos que para garantir essa função é na escola que se dá a interação professor e aluno, eixo fundante e primordial do processo de ensino e de aprendizagem. Por isso mesmo, o foco de nosso texto toma o docente como personagem central a ser tratado aqui.
Iniciamos considerando que a escola não visa apenas pensar e atuar com alunos/as sejam crianças ou adolescentes. É o espaço no qual se dá, também, a aprendizagem dos docentes, a continuidade de sua formação.
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Mas, o que significa uma formação dentro da escola? Por certo, exige um grande empenho da equipe gestora em promover junto com seus profissionais a busca da qualidade do ensino e da aprendizagem.
Este texto visa trazer a importância da escola com relação à pessoa do/a professor/a. Entendemos que, ao assumir esta função é urgente, prioritário e necessário um olhar para si mesmo.
Esta atitude pessoal leva a rever a memória educativa porque a prática de ministrar aulas traz elementos de vivências passadas, ressignificadas, reinterpretadas na relação de sua experiência vital como aluno/a em uma escola.
Consideramos que estas fazem parte do processo formativo que, por sua vez, traz duas trajetórias inseparáveis: a pessoal: experiências de vida, suas marcas, e a profissional: o processo que vem fazendo como docente de uma instituição de ensino.
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A formação do corpo docente
Neste movimento de olhar para si mesmo dá-se a reflexão crítica sobre a prática; trata-se, também, de uma análise avaliativa de como vem atuando, até que ponto assume mudanças significativas no seu ato de ensinar. Por isso mesmo, não pode abrir mão dos instantes promovidos pela gestão escolar quando trata de sua formação em serviço.
O importante é destacarmos que não existe docência sem o estudo, a inquietação e a reflexão constantes. Dados inerentes para uma coerência na função e em uma atuação transformadora. Não deveria existir zona de conforto para professores. Quando nos acomodamos começamos a prejudicar aqueles com os quais atuamos.
Frente ao exposto, podemos dizer que há dois momentos interligados que surgem na formação do corpo docente: a autoformação e a coformação ou também chamada heteroformação.
Na autoformação considera-se o empenho pessoal que se dá além dos muros da escola. Trata-se, aqui, do entendimento de que cada uma das experiências, pesquisas e estudos pessoais leva à aquisição de aprendizagens, ampliação de conhecimentos – saberes adquiridos –; atualização necessária para o bom exercício profissional – ressignificação contínua do saber fazer pedagógico. Refere-se, portanto, à tomada de consciência reflexiva do desempenho junto ao educando.
É a partir de sua autoformação que o profissional se abre, se predispõe à heteroformação ou coformação, quando se dá a tomada de consciência da importância de ações coletivas no espaço escolar.
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No entanto, deixamos aqui algumas questões, visto que, inúmeras vezes, nota-se que há uma dificuldade de o docente se envolver com um outro colega, colocando-se fechado para compartilhar. Mesmo que seja favorável ao discurso interdisciplinar, é lamentável que na prática não se exponha à ação de compartilhar.
Como sair dessa concha e se empenhar na coformação? Quais gestos concretos? Quais são as resistências? Por quê? Eis aí mais um motivo de se entregar ao “olhar para si mesmo” e entender que trocas de experiências fazem parte de sua formação: diálogos com parceiros da mesma disciplina, área, escola e mesmo com outras pessoas que possam contribuir com o compartir.
Sendo assim, a troca de práticas deveria fazer parte do processo continuo de formação das instituições de ensino. Um docente aprender com o outro... E entender que é no diálogo com parceiros que se dá a adesão coletiva de saberes. Ao mesmo tempo dimensiona-se a evolução da consciência participativa em claro movimento de integração entre sua própria pessoa e o ambiente onde atua.
Importante refletir sobre o que cabe à escola e o que cabe ao docente nestas ações formativas. Não cabe à escola a autoformação, mas sim oferecer oportunidades para a percepção de que somos profissionais “incompletos”; oportunidades estas que favorecem ampliar, aperfeiçoar e ressignificar o repertório de saberes.
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Cabe, pois, à escola valorizar e dar voz ao corpo docente quanto às suas necessidades e carências pedagógicas. Assim, abrir espaço para a partilha de pesquisa; de discussões de temas relevantes e de práticas inovadoras; acolher apresentações espontâneas de estudo; aperfeiçoar ações preventivas e regras; bem como a manifestação e trocas de experiências.
Eis aí um dos maiores objetivos do existir de uma escola, mas também permanece em nós uma questão ainda sem resposta ou com a possibilidade de muitas respostas oriundas das vivências diferenciadas (positivas ou não) dos nossos estudantes: afinal, como eles entendem o “que é escola?”
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Autores:
João Carlos Martins: Doutor em Psicologia da Educação e Mestre em Educação. Assessor e Formador de educadores. Coautor das obras: com Lucilla da Silveira Leite Pimentel, “O Fazer Pedagógico: (Re)significando o olhar do educador”. Rio de Janeiro: WAK, 2009. Com Cleide do Amaral Terzi e Lucilla da Silveira Leite Pimentel: “Sala de aula: quando eu entro e fecho a porta... quando eu entro e abro a porta...”. Rio de Janeiro: WAK, 2018.
Lucilla da Silveira Leite Pimentel: Mestre em Filosofia da Educação, Mestre em Comunicação Social, Psicopedagoga, Assessora e formadora de educadores. Coautora das obras: com João Carlos Martins, “O Fazer Pedagógico: (Re)significando o olhar do educador”. Rio de Janeiro: WAK, 2009. Com Cleide do Amaral Terzi e João Carlos Martins, “Sala de aula: quando eu entro e fecho a porta... quando eu entro e abro a porta...”. Rio de Janeiro: WAK, 2018.
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