Orientações para a transição escolar dos alunos em 2023
Se a transição escolar do aluno não é doce e delicada, a permanência nela dificilmente será. Reflita conosco sobre essa importante etapa na vida das crianças.
Pouca gente sabe, ou se lembra, que nós, humanos, não nascemos na escola. Pelo contrário, somos encaminhados para ela em algum momento da vida. A esse processo dá-se o nome de transição escolar.
A transição para a escola é um processo tão sério e tão importante que já mereceu livros, teses, discussões e, é claro, muitas opiniões.
Transferir uma criança do contexto familiar para a escola requer cuidado e esse cuidado é afetivo, é delicado, é compassivo e, por sinal, é muito perigoso.
Ao nascer, uma criança tem que ir, aos poucos, se adaptando às regras de uma sociedade: comer da maneira que nos dizem, falar da forma que nos orientam, comportar-se como esperam e aí segue o processo de humanização.
Porém, tudo isso acontece num contexto familiar, concomitante à aquisição da linguagem. Aprendemos a falar ao mesmo tempo em que aprendemos a nos colocar no “mundo de casa”; no nosso mundo.
Esse nosso mundo é familiar, com regras e condições que a nossa família acha importante. Acontece que, depois de toda essa adaptação, que já durou no mínimo 4 anos, a criança é levada a uma escola, que na cabeça dela não quer dizer nada, e ao mesmo tempo quer dizer tudo.
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Os questionamentos durante a transição escolar
Que espaço é este em que todos têm o mesmo direito? Que espaço é este que tem horário para tudo? Que espaço é este em que todos têm que fazer a mesma coisa o tempo todo? Que espaço é este onde as regras de cada um não valem mais e agora só valem as regras coletivas? O que são estas tais palavrinhas mágicas que tanto me cobram?
Essas são perguntas feitas pelas crianças que são colocadas na escola. É claro que diante de tantas questões, dependendo do estado emocional da criança, ela opta por não fazer esse esforço, ou seja, é aí que a tal transição escolar não acontece.
Para que uma criança possa fazer a opção por aceitar e encarar essa nova jornada, que exigirá dela muita perda, muito limite e muita frustração é preciso que ela tenha certeza de que não estará sozinha. Pais e educadores têm a difícil tarefa de seguir os passos da criança enquanto ela sozinha vai fazendo as concessões e vai tirando a suas conclusões.
Quando uma criança sente que o desafio será grande demais e que ela está absolutamente sozinha, nada vai acontecer e a tal transição escolar vira um tormento para a família e sobretudo para a escola.
Aqui cabe o velho ditado: espinho quando tem que furar de pequeno traz a ponta. Ou seja, se a entrada na escola não é doce e delicada, a permanência nela dificilmente será.
O assunto tem ganhando cada vez mais corpo diante de polaridades vividas por nações e culturas. Muitas vezes pais e responsáveis não mensuram o que é o processo educativo.
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A importância do Projeto Político Pedagógico (PPP) na transição escolar
Aqui vale um esclarecimento. A escola trabalha com um projeto político pedagógico, o famoso PPP. É esse documento que deveria ser lido pelos pais e responsáveis antes de fazerem a matrícula de seus filhos naquela instituição. É nesse documento, que não por acaso tem a palavra político na composição, que orienta as escolhas e as práticas dos professores e da direção escolar.
Nesse documento estão os projetos que a instituição acredita. Esses projetos vão desde a escola religiosa da escola até os projetos de família, sexualidade e altruísmo. Estão ali ações que ao serem desenvolvidas irão agregar, pouco a pouco, nas crianças, valores e percepções que muitas vezes não são escolhas da família.
Imaginemos um aluno vinte dias letivos, no mínimo 4 horas por dia, dentro de uma instituição que prega algo, que acredita em algo e que faz esse algo acontecer em leituras, discussões e projetos. Mas os conflitos entre escola e família podem estar surgindo justamente ali, pois esse algo dito pela escola lá no PPP não é o algo esperado pela família lá dentro de casa. Essa disparidade costuma dar problema e tem dado demais nos últimos anos.
Penso que os pais e os responsáveis pela educação das crianças precisam avaliar o que aquela escola oferece, pois toda escola é uma oferta coletiva e não individual. Toda escola oferece um mundo múltiplo, não o meu mundo mitigado e apequenado.
Se a escola e a família possuem essas diferenças, é saudável que as famílias busquem dentro de suas condições, quais são as redes e as instituições que mais se adaptam ao esperado. E, se nada disso for encontrado na sua região, o que a família pode fazer para que, garantindo o direito da educação não, dilua a escolha orientativa daquele núcleo família. Tarefa difícil. Trabalho árduo.
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Geraldo Peçanha de Almeida
Pedagogo pela UNESP, mestre em Teoria Literária pela UFPR e doutor em Crítica literária pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina. Em 2020 passou a integrar a Academia Internacional de Literatura Brasileira, com sede em New York, onde tem Paulo Freire como patrono. Tem mais de 70 livros publicados, entre eles “Pedagogia da Delicadeza” e “Alegria de ensinar e aprender – ser professor na contemporaneidade”.
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