Monteiro Lobato e a literatura infantil
Monteiro Lobato criou um universo infantil enriquecido pelo folclore e pela sua criatividade. Buscou o nacionalismo na ação das personagens que refletiam na brasilidade, sendo um dos mais completos autores da Literatura Infantil
O Sítio e toda a sua magia
José Bento Monteiro Lobato criou, com o Sítio do Pica-Pau Amarelo, uma obra vigorosa, fantástica, que mistura elementos típicos da cultura brasileira, como a vida na roça, em espaços amplos a serem descobertos, as memórias de infância ligadas a elos familiares fortes como a casa dos avós (neste caso da Avó, Dona Benta), personagens do folclore nacional e, ao paralelamente a isto, proporcionou nesta mesma obra, a todas as crianças e adolescentes que descobrem suas histórias, a possibilidade de também conhecer um pouco da história do mundo, com passagens pela Grécia Antiga, fábulas e outros momentos marcantes da aventura humana no planeta.
A grandiosidade da obra de Lobato
Sua produção é realmente fabulosa e merece todos os créditos recebidos. Lobato, guardadas as devidas proporções, realiza no Brasil o que escritores como Mark Twain ou Charles Dickens no passado, ou J.K.Rowling, no presente, fizeram em suas obras em língua inglesa, como Huckleberry Finn, Oliver Twist e os livros da série Harry Potter.
A celebração da brasilidade
A brasilidade está presente na obra infantil e adulta de Monteiro Lobato, um nacionalista convicto, que defendeu bandeiras importantes para o país, como por exemplo, a exploração de petróleo em solo nacional antes mesmo da criação da Petrobras e que, por conta de suas ideias e importância, foi preso durante a ditadura de Vargas. Os elementos brasileiros que constam em sua produção para crianças são de grande valor para o resgate e preservação de ideias, personagens, habitats e, principalmente, da rica cultura do interior do país e de seu folclore. Para conhecer melhor este grande brasileiro é recomendável a leitura do livro “Monteiro Lobato: O Furacão da Botocúndia”, de Carmem Lúcia de Azevedo, Márcia Mascarenhas Camargo e Vladimir Sacchetta.
Sobre a importância de se ler mais as obras e Lobato
Lê-se menos do que se deveria a obra de Monteiro Lobato nas escolas brasileiras. Deveria ser parte integrante das listas de leitura e do currículo nacional o estudo de sua proeminente literatura. A importância disso se refere a própria necessidade de valorizar o Brasil, sua cultura, seus elementos fundantes e, com isso, evitar que estereótipos negativos a nosso respeito, que acabam por levar adiante práticas escusas como “o jeitinho brasileiro” ou ideias de inferioridade, como “a síndrome de vira-latas”, expressão criada por outro grande escritor brasileiro, Nélson Rodrigues, se consolidem. É também importante para criarmos uma identidade nacional e não nos submetermos totalmente a valores importados de outras nações.
A importância da leitura na infância
A leitura é uma das principais formas de inclusão na sociedade e, ao mesmo tempo, imprescindível para o desenvolvimento da criatividade, da imaginação. Ao ler obras de Lobato, por exemplo, as crianças precisam criar em suas próprias mentes uma versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo, imagens dos personagens principais como Emília, Visconde, Pedrinho ou Narizinho, viajar no tempo e no espaço, pensar em animais ou personagens do folclore... isso somente para mencionar o exercício de criação. Há também a pesquisa que isso pode e deve desencadear, os exercícios e práticas de contação de história, o desenvolvimento da escrita...
Ao se iniciar a leitura na infância esta prática se consolida
A intenção ao se iniciar a leitura ainda nos primeiros anos escolares, inicialmente a partir de contação de histórias e, depois, com as crianças sendo alfabetizadas e participando de círculos de leitura e demais ações nessa área é justamente, a de que, a partir de projetos de leitura que mobilizem, incentivem, estimulem e proporcionem a oportunidade de contato com autores como Lobato, Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, somente para mencionar alguns dos nomes consagrados do segmento, as crianças se apaixonem pelas letras e queiram sempre ter um livro embaixo do braço, seja ele em papel ou digital.
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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