Na marca do pênalti

A vida continua...


Bola na rede do gol

O estádio estava lotado. A tensão podia ser percebida por todos os lados. Ambas as torcidas agitadas haviam esperado ansiosas por aquele grande confronto. E, como não podia deixar de ser, com a bola rolando a festa corria solta. Torcedores agitavam as bandeiras, cantavam os hinos dos times, exaltavam este ou aquele jogador, reclamavam quando algum deles errava, "homenageavam" o árbitro e os bandeiras... 

E o 0x0 não saía do placar. Jogo duro. Movimentado, com belos lances, dribles e chutes com destino certo, mas grande atuação das defesas e dos goleiros. Por isso parecia que tudo iria mesmo terminar empatado e ser decidido em penalidades. Até aquele minuto final chegar... O lateral avançou e tabelou com o meio-campista que o colocou entrando na área, em direção ao goleiro, com tudo para marcar... Veio então o zagueiro adversário e, sem dó, lhe deu um carrinho que quase o quebrou ao meio...

O juiz imediatamente apitou! O estádio se dividiu, metade entrou em êxtase, era a vitória chegando. Do outro lado, cabisbaixos, os adversários não podiam acreditar no que viam. Aquele zagueiro tinha que fazer o penalti justo agora! Lá se foi o campeonato... Talvez ainda não, quem sabe o goleiro não faz um daqueles milagres de última hora, não é mesmo, ainda diziam alguns.

Bola debaixo do braço, o camisa 10 se encaminha para a cal, como diziam os antigos. Na marca do pênalti, ajeita carinhosamente a bola, depois de tê-la até mesmo beijado, para demonstrar-lhe o carinho e o apreço necessários e a dizer-lhe: "segue seu rumo, vai para as redes".

Alguns jogadores adversários encostam no craque, tentam catimbar sua cobrança, tirar-lhe a concentração. O campeonato está ali, naquele chute decisivo, faltam poucos minutos para terminar, depois é só dar chutão, segurar o resultado. Ele sente a pressão. Apesar de experiente, tem aquele "frio na barriga" tão próprio destes momentos importantes. Olha para os céus, como se com isso se comunicasse com Deus, coloca as mãos na cintura, fica em posição, esperando a autorização do árbitro...

Do outro lado, também tenso, o goleiro se movimenta de um lado para o outro. Seu primeiro desejo fora dar uma surra no colega da zaga que lhe colocara nessa situação. Virara o salvador da pátria. Podia ser a manchete do jornal de amanhã, o herói daquela partida, o grande responsável pela conquista da taça. Ao mesmo tempo, podia amargar um amanhecer de derrota se não realizasse a tão esperada defesa naquela cobrança de penalidade máxima...

Tudo no seu devido lugar... Juiz com o apito na boca... Jogadores alinhados a esperar o lance, quem sabe não dá um rebote e uma nova chance de gol surge ali... Entre os companheiros do batedor a confiança do título, o gol daquele camisa 10 é dado como certo... Entre os jogadores do outro time, a esperança de que o goleiro voe e pegue a bola, aonde quer que ela vá... 

Apita o juiz... O craque se encaminha para a bola... O suor escorre por sua testa... Seu coração palpita a mil por hora... A torcida acompanha silenciosa, com mais nervosismo no ar... O goleiro, por sua vez, também vê seus batimentos cardíacos subirem as alturas... Quem vencerá?

O pé esquerdo bate na bola, ela sai com força, direção, a meia altura... Seu destino parece certo... canto esquerdo... O goleiro parece ter dado um leve passo para a direita e de repente, como um gato, voa para o lado certo... Respiração suspensa, todo mundo acompanha os movimentos... Aqueles segundos parecem eternos... A mão do arqueiro até toca na bola, mas ela estufa as redes e repousa no fundo das redes... 

 

Gol, gritam os narradores nas cabines de rádio e televisão. Gol ecoa a torcida do time vencedor. Gol vibra o craque abraçado por seus companheiros... A partida acaba. O troféu é erguido. A vida continua... Amanhã, depois de muita comemoração, é dia de ir para o trabalho!


João Luís de Almeida Machado

João Luís de Almeida Machado

Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

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