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Estude, estude e estude...
Pode parecer óbvio, mas muitas vezes isso não é considerado pelas pessoas. Estudar mais, completando novos ciclos, realizando cursos e se especializando com novos saberes e formações é, comprovadamente, segundo pesquisas realizadas no Brasil e no mundo todo, evidente forma de aumentar rendimentos.
As possibilidades de uma pessoa que cumpre somente a formação básica são reduzidas em relação a quem completa uma graduação. Se o profissional se especializa por meio de cursos de pós-graduação ou MBA, aumenta seu potencial de rendimentos no mercado, valorizando seu passe. Se, porventura, buscar formações adicionais, como mestrados e doutorados, se especializando de tal forma que seu patamar de conhecimento, experiência e capacitação o tornem diferenciado, ainda melhores serão os frutos financeiros de todo este esforço.
No Brasil, parece que finalmente as pessoas estão percebendo o valor do estudo, conforme atesta a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), analisando o período entre 2012 e 2018, percebendo que houve, por parte de quem estuda mais, um acréscimo médio de 12% nos rendimentos.
Isso está motivando as pessoas a estudarem mais o que se evidencia pela média de anos de estudo da população brasileira nos últimos anos. Em 1992, os dados indicavam que os brasileiros tinham, na média geral, cerca de 5,8 anos de escolarização. Os dados atualizados, referentes a 2018, por sua vez, indicam que o patamar chegou a 9,9 anos de escolarização média por brasileiro. O crescimento é grande ao longo destes 26 anos, no entanto, a formação média do cidadão brasileiro, no montante de anos, equivale a completude de estudos no nível do Ensino Fundamental, que dura exatamente 9 anos. Ainda é pouco, porém, esta média considera tanto as situações mais extremas para baixo quanto aquelas para cima, ou seja, analisando tanto aqueles que estudaram pouco quanto os que continuam a estudar.
A PNAD revelou ainda que diminuíram as disparidades regionais, ou seja, o fosso que separava os estados em que a escolarização tinha em 1992 os piores índices e aqueles nos quais o percentual de pessoas com formação básica completa e estudos no ensino superior eram maiores, está bem menor.
Entre os extremos do início dos anos 1990, tínhamos, no Sudeste, indicadores na faixa dos 6 anos de escolarização, os melhores de então no país, e, por outro lado, no que se refere aos estados do Nordeste, com os resultados mais baixos em nível nacional, uma média de 4,2 anos de estudos, ou seja, a diferença percentual estava em 1,8 anos.
Os dados referentes a 2018 mostram que o Nordeste atingiu a média de 9 anos de escolarização e o Sudeste chegou ao patamar de 10,4 anos, caindo portanto a diferença para 1,4 anos em média entre os estados das duas regiões do Brasil e, com isso, sendo atestada a evolução mais acelerada no período em estados nordestinos, com especial destaque para o Ceará e Pernambuco, do que em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Espírito Santo.
A pesquisa revela ainda que a população economicamente ativa no país teve, entre 2012 e 2018, um crescimento de 15% para 20,1%, entre aqueles que possuem formação superior, ou seja, que completaram cursos universitários. O país passou a ter, portanto, 1 em cada 5 pessoas ativas em seu mercado de trabalho, com diploma universitário. Isso significa, na prática, profissionais com mais estudo, preparo e condição de melhorar a produtividade, aumentar os rendimentos em diferentes áreas de produção e trabalho tanto para si mesmas quanto para as empresas e empreendimentos nos quais estiverem envolvidas.
Na prática, de acordo com outra pesquisa, realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2018, no Brasil, quem completa os estudos na graduação, ou seja, na universidade, tem rendimentos, em média, 150% superiores aos que conseguem auferir ao final do mês de trabalho as pessoas que somente concluíram o ensino médio.
Os dados do PNAD, por sua vez, concluíram que:
- Há um ganho médio de 38% nos salários daqueles que concluíram o ensino fundamental em relação a quem não estudou ou completou tal ciclo;
- Em se considerando a completude do ensino médio, este aumento médio de ganhos é de 66% em relação a quem não tem formação escolar, ou seja, considerados sem instrução;
- Se o profissional completou o ensino superior, os ganhos comparativamente a quem não estudou, atingem 243% de acréscimo salarial.
É claro que somente a formação universitária não garante, de imediato e automaticamente melhores ganhos. É preciso que o profissional ganhe experiência no mercado que, por sua vez, adiciona com o passar dos anos e das realizações, mais e melhores ganhos para quem trabalha, tem formação e continua a estudar.
A qualidade dos cursos e formações realizadas é, também, fator de diferenciação nos holerites. Na prática, isso equivale a dizer que o reconhecimento do mercado brasileiro e internacional pelas melhores e mais conceituadas universidades do país e do exterior também é um diferencial no tocante a salários e benefícios.
Outros elementos igualmente importantes e valorizados são o domínio de línguas estrangeiras, a atualização tecnológica, a capacidade de se comunicar bem oralmente e por escrito, a criatividade e o portfólio profissional, ou seja, as iniciativas e realizações que fazem parte do histórico das pessoas no mercado de trabalho.
Os dados, no geral, são indicadores de que o país começar a trilhar uma rota que pode lhe permitir melhores voos num futuro próximo, com o crescimento da escolarização e o aumento na quantidade de pessoas que se formam nas universidades ou que fazem cursos de pós-graduação e MBA.
Há, no entanto, que se melhorar os indicadores da educação básica. Falta qualidade na formação oferecida nas escolas de ensino fundamental e médio do Brasil, conforme é possível verificar pelos resultados de outros indicadores, nacionais e estrangeiros, como o PISA (Programa de Avaliação Internacional de Estudantes), em que o Brasil figura entre os últimos colocados desde o início desta avaliação de caráter mundial em leitura, matemática e ciências, ou mesmo dos dados do MEC/Inep, como aqueles auferidos por meio do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que nos colocam abaixo da média mínima esperada para países em desenvolvimento, na faixa dos 6 pontos, numa escala de 0 a 10. Atualmente a média do Brasil no Ensino Fundamental está em 5,5 pontos para os Anos Iniciais; 4,5 pontos para os Anos Finais deste mesmo ciclo e, para o Ensino Médio, somente 3,7 pontos, conforme dados de 2015. Resultados muito baixos que demandam ações mais efetivas na educação básica brasileira.
Evolução real dependerá, portanto, de melhorias no ensino básico e, também, de uma oferta de formações atualizadas, de qualidade e em conformidade com o mercado brasileiro e mundial, no ensino superior do país, com real ensejo tanto a um ensino forte para estes futuros profissionais quanto para o investimento em pesquisa e cultura.
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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