A banalização do uso do WhatsApp...
Como evitar isso?
As ferramentas de comunicação criadas com o advento das novas tecnologias constituíram um avanço considerável, celebram os especialistas e, principalmente, o grande público. Nos primórdios, quando os comunicadores como o ICQ ou o Windows Messenger, ainda eram bem rudimentares, com funcionalidades básicas, sem grandes possibilidades de maior interatividade e, ainda, restritos pela banda de internet que prevalecia entre o final dos anos 1990 e início do novo século, com uma quantidade muito inferior de usuários tendo acesso à web, eram ainda novidade para poucos, considerando-se o uso atual, na casa dos bilhões de acessos diários.
A partir da metade da primeira década dos anos 2000, com o surgimento das plataformas de redes sociais e de novas ferramentas de comunicação, como o Skype e o Messenger, reformulado, com mais recursos, reforçados pela banda larga em expansão em todo o mundo, assistimos uma explosão de acessos e usos variados. Anunciava-se um novo tempo, em que a telefonia teria que se adaptar a concorrência deste tipo de instrumento de comunicação, via internet, mais barato, rápido e com funcionalidades que os telefones convencionais não ofereciam.
O Skype, surgido em 2003, traria entre suas inovações a possibilidade do uso de imagem para as conversas entre pessoas em diferentes localidades, fossem elas próximas ou distantes. Um acréscimo interessante aos comunicadores foi o uso de comunicação envolvendo mais de 2 pessoas, integradas pelas plataformas, ocasionando discussões em pequenos grupos, algo de grande interesse tanto para o usuário comum quanto, em especial, para corporações, grupos de pesquisa e estudo, instituições governamentais, ONGs...
O surgimento do WhatsApp, no entanto, causou o maior crescimento verificado entre os comunicadores instantâneos desde o advento da web comercial. A seu favor o momento de expansão do consumo do serviço de internet, relacionado a ampliação e consolidação das redes de banda larga em todo o mundo e, principalmente, a mudança da principal base de acesso à web de notebooks e desktops para smartphones e tablets. A mobilidade oportunizada por estes pequenos recursos digitais, de grande capacidade, que ano após ano ganham mais recursos, capacidade de processamento, velocidade, possibilidade de armazenamento de arquivos, entre outras funcionalidades. A partir de 2009, quando o WhatsApp surgiu e tomou de assalto o mercado, o mundo nunca mais seria o mesmo.
O envio instantâneo de mensagens, a utilização de linguagem ágil e veloz (reduzida, própria), os emojis e outros tipos de imagens que acompanham esta comunicação, a “gratuidade” dos serviços, a compra da empresa pelo Facebook, o acréscimo constante de novas ferramentas, enfim, todo este movimento em torno do WhatsApp fez com que esta plataforma de comunicação online se tornasse a mais popular em todo o mundo e que, mesmo com o surgimento de outras, semelhantes, se mantenha há uma década, como aquela que mais cresceu a ponto de se tornar um dos aplicativos em uso mais usados em praticamente todas as grandes nações, exceto a China, onde há restrições governamentais e em alguns países nos quais as liberdades democráticas são limitadas pelo regime vigente.
O WhatsApp é usado por cerca de 1,5 bilhões de pessoas em todo o mundo e, atualmente, é superado somente pelo Facebook, grupo ao qual pertence, que tem 2,2 bilhões de usuários inscritos.
Em se considerando que a China, o país mais populoso do mundo não usa o WhatsApp, e que a população daquele país asiático é estimada em 1,37 bilhão de pessoas, tanto o Facebook quanto o WhatsApp, têm alcance superior, em usuários e geograficamente falando, ao de todas as nações do mundo. Isso representa ao mesmo tempo, um grande poder e uma enorme responsabilidade que, convenhamos, em se considerando os problemas relacionados a privacidade, venda de dados de usuários, ataques hackers e outras situações verificadas e em investigação e processos judiciais envolvendo o Facebook, demonstram que é preciso regular esta situação mundialmente para evitar problemas ainda maiores para os inscritos nestas e em outras plataformas na internet.
É preciso, no entanto, atentar para o fato de que o WhatsApp, sendo tão usado mundialmente, faz brotar todos os dias milhares, senão milhões de novas conexões, com a criação de grupos e mais grupos, envolvendo muitas pessoas, de diferentes nacionalidades ou não, próximas ou distantes, a trocar mensagens em alta velocidade, sendo monitoradas pelos responsáveis pelas plataformas e por outros grupos, deixando pegadas virtuais que serão, a qualquer momento utilizadas para fins políticos, sociais, culturais ou econômicos.
Dentro deste universo de conexões, destacam-se as possibilidades de uso comercial, a unir empresas, seus representantes, clientes e fornecedores. Ao mesmo tempo, a chance de amigos e famílias distanciados neste mundo globalizado poderem se encontrar a qualquer momento com grande rapidez e trocar informações, imagens, vídeos... Há, até, a possibilidade de uso para pesquisas e estudos, envolvendo grupos de estudiosos, pessoas de uma mesma comunidade escolar, autoridades da educação de diferentes nações e por aí afora. Isso já está acontecendo e é muito fortuito e proveitoso para todos, certamente.
Ocorre, porém, como algo bastante comum e corriqueiro, a criação de grupos que propagam mensagens de ódio, utilizam o WhatsApp e outras ferramentas para disseminar práticas abomináveis - como a pedofilia ou o terrorismo, estimulam a violência, tentam arregimentar jovens para causas e batalhas injustas, promovem a venda de drogas, armas e produtos contrabandeados, enfim, para inúmeros fins ilícitos, prejudiciais para seus usuários e para toda a sociedade.
Não bastasse este uso, combatido pelas autoridades, mas que persiste na rede, temos ainda um fenômeno global ocorrendo com o WhatsApp, a banalização de seu uso, por usuários comuns, que utilizam de forma exagerada o recurso, participando de inúmeros grupos, propagando mensagens e imagens que pouco ou nada acrescentam a vida deles mesmos e de todas as demais pessoas com as quais se comunicam, a replicar mensagens falsas, boatos e fofocas, a atacar pessoas e instituições, a disseminar ideias erradas e ações indevidas.
O pior de tudo é que estas redes replicam mensagens vindas de outros usuários, sem saber a fonte real, gerando possibilidade de propagação de vírus que podem contaminar um sem fim de computadores, tablets e smartphones.
E o que podemos fazer para evitar isso?
Há algumas possibilidades de diminuir este ritmo frenético e além da conta quanto ao uso indevido do WhatsApp e a propagação de mensagens indevidas, diminuindo a utilização banalizada deste recurso.
Vamos a eles:
- O primeiro passo é reduzir os grupos aos quais o usuário está vinculado, restringindo somente aos que realmente interessam;
- A seguir é preciso definir o que realmente é prioritário nesse tipo de comunicação, evitando a disseminação de imagens e mensagens de terceiros;
- As correntes, tão comuns no WhatsApp e inúteis, diga-se de passagem, também precisam ser abolidas;
- Fazer um “pente fino” entre as pessoas que constituem sua rede de contatos, mantendo somente quem você realmente conhece é algo a ser feito não apenas em relação ao WhatsApp, mas também a todas as redes sociais nas quais estiver envolvido;
- Não aceitar convites de novos grupos ou apagar aqueles com os quais não tem real ligação também deve ser tarefa cumprida para melhorar o uso deste recurso;
- Para finalizar, apagar com frequência mínima mensal ou bimestral, os arquivos e conversas, é algo aconselhável para manter a “saúde” de seu aparelho e rede de conexão como WhatsApp.
É sempre importante lembrar que o problema em relação ao uso da tecnologia, neste caso, do WhatsApp, não se relaciona aos recursos e plataformas, mas a forma como nós, seres humanos, realizamos a interação com tais ferramentas. Do mesmo modo que um carro pode ser apenas um veículo a levar alguém para a destinação pretendida, pode ser também um recurso a causar destruição, sofrimento e mortes se conduzido de modo indevido por seu motorista, as tecnologias de informação e comunicação podem ser fortuitas e úteis ou banais e prejudiciais para as pessoas.
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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