Papai Noel desmaiou... E agora?

Um barulho chamou a atenção de todos. As crianças se levantaram primeiro e logo desceram as escadas. Os pais, preocupados, foram atrás e tentaram tomar frente


Imagem do Papel Noel carregando um saco de presentes

Quando chegaram a sala, ficaram surpresos ao ver que Papai Noel estava deitado no chão, desmaiado.

Ninguém sabia ao certo como proceder. O pai, deu alguns passos e se aproximou do homem que ali se encontrava. Observou que ele respirava. Viu que suas barbas não eram postiças. Atentou para o saco de presentes que estava ao lado dele. A mãe se posicionou ao lado do pai e pediu que ele verificasse os batimentos cardíacos do Papai Noel que ali se encontrava.

Como papai tinha conhecimentos de primeiros socorros, que aprendera na fábrica, começou a examinar Papai Noel para ver o que poderia ter ocasionado o desmaio. Viu um ferimento na cabeça, talvez causado pela descida na estreita chaminé, pensaram. As crianças, curiosas, tudo observavam, preocupadas com Papai Noel e com o Natal.

Era véspera do dia santo, esperada ansiosamente por milhares de crianças no mundo inteiro. E se Papai Noel não se recuperasse, o que aconteceria? Aos poucos, no entanto, Papai Noel começou a se mexer. Mamãe pegara álcool e colocara num lenço, aproximando do nariz do acidentado para que ele despertasse. Disse que aprendera isso com vovó.

Deu certo. Os olhos de Papai Noel se abriram. Ele disse algumas palavras que não entendemos direito, estava confuso. Quando conseguiu se sentar olhou para todos que ali estavam e perguntou onde estava.

Dissemos a ele que estava na casa da família Silva. Diante dele estávamos nós todos, meus pais Paulo e Maria, meus irmãos Mateus e Tiago, e também eu, Sara. Ele não se lembrava de nada. Não sabia nem mesmo quem era. A pancada na cabeça tinha sido forte. O Natal corria o sério risco de não acontecer!

Pensamos então que Papai Noel vinha num trenó, nos lembramos das renas, talvez algum dos ajudantes estivesse lá fora, esperando... Saímos no quintal e não encontramos nada.

Voltamos para dentro de casa e perguntamos para ele como havia chegado ali. Ele não sabia, não conseguia se lembrar. Mexeu nos bolsos da vistosa roupa vermelha que o identifica e encontrou uma lista. Ali estavam os nomes de várias casas que iria visitar naquela noite. Todas elas na cidade em que morávamos.

Ficavam no bairro mais pobre. As demais, nas áreas onde morávamos, por exemplo, já tinham sido visitadas. Pensamos então em ajudar. Podíamos colocar o saco com os presentes no carro e visitar as casas. Não seria possível entrar pela chaminé, mas podíamos deixar na porta os presentes e tocar a campainha.

Papai achou a ideia do Mateus muito boa. Mamãe ficaria em casa com o Tiago, o irmão mais velho, cuidando do bom velhinho. Papai vestiria uma roupa de Papai Noel que usava para animar nossas reuniões de família. Eu e Mateus vestiríamos roupas verdes, com camisas brancas e fingiríamos ser ajudantes do Papai Noel. Todos concordaram que o plano era bom.

Nos despedimos do Papai Noel, de mamãe e de Tiago e fomos entregar presentes. Tínhamos pela frente 78 casas pelas quais deveríamos passar, de acordo com a lista.

Isso iria tomar um bom tempo! Ficamos pensando em como o verdadeiro Papai Noel conseguia entregar presentes para milhões de crianças no mundo inteiro. Um verdadeiro milagre todos os anos, disse papai.

Quando chegamos ao primeiro endereço tentamos ser muito silenciosos. Cachorros latiam, tábuas velhas rangiam, o barulho de nossos passos era por vezes um pouco alto...

As casas eram simples, as pessoas que ali moravam eram bem pobres, mas havia em todas elas muita dignidade, dava para ver que o povo era trabalhador.

Pela janela pudemos ver mesa simples, com alguma comida ainda por ali, pedaços de pão, algum arroz, nada de carne...

Tiramos os presentes do saco e deixamos na porta. Enquanto papai e eu íamos para o carro, Mateus tocava a campainha e rapidamente corria para junto de nós.

Foi assim durante toda a noite. Víamos as luzes das casas se acender. Crianças e adultos abriam as portas e encontravam os presentes. Seus olhos brilhavam, podíamos ouvir risos, perceber a alegria que invadia aqueles lares humildes.

Quando entregamos os últimos presentes, na mais distante casa, aquela que nos pareceu a mais pobre de todas, assim que colocamos os presentes na porta, uma menininha apareceu de repente. Se viu diante de nós, eu ainda tinha um presente nas mãos...

Ela tinha quase a minha idade. Olhei nos olhos dela e vi que era a quem se destinava aquele último brinquedo. Sabia que na caixa devia ter uma boneca. Estendi os braços na direção dela e lhe dei o presente. Ela sorriu, abriu o embrulho na nossa frente, encontrou a boneca de pano, abraçou seu presente com muito carinho e uma lágrima escorreu de seu rosto, tamanha era sua alegria!

Nunca tínhamos vivido algo tão intenso e belo quanto aquele Natal.

Ao chegarmos em casa o sol já estava aparecendo no horizonte. Mamãe e Tiago correram na porta para nos receber. Perguntamos de Papai Noel e eles disseram que ele estava no quarto, deitado na cama. Nossa árvore, ao passarmos, continuava vazia e, no saco de presentes que levamos em nossa jornada não havia mais nenhum embrulho.

Corremos para o quarto onde Papai Noel estava deitado e ao chegarmos lá encontramos a cama vazia.

Em cima do travesseiro havia um bilhete que dizia o seguinte:

“Família Silva. Agradeço a todos vocês pelo carinho e cuidado que tiveram comigo nesta noite tão especial. O espírito do Natal invadiu sua casa e vocês permitiram que o milagre do nascimento de Jesus fosse celebrado em muitos lares humildes de sua cidade. Que Deus abençoe todos vocês. Abraços. Papai Noel”.

Lágrimas e sorrisos se alternaram entre nós. Saímos do quarto felizes por saber que o Natal tinha contado com uma pequena contribuição de todos nós.

Papai sugeriu que levássemos mamãe e Tiago ao bairro onde entregáramos todos aqueles presentes. Fomos de carro até lá e vimos muitas crianças se divertindo com bonecas, bolas, carrinhos e outros brinquedos que ganharam no Natal.

Vimos aquela menininha abraçada a sua bonequinha como se fosse sua filha, junto as amigas, todas rindo e se divertindo muito. Quando passamos ela olhou para nosso carro e seu olhar cruzou com o meu. Por um segundo tive a impressão que ela lembrou de mim. Vi que ela acenou assim que saímos dali.

Chegamos em casa sabendo que naquele Natal já tínhamos ganhado um presente inesquecível. Sabíamos que sob nossa árvore não estariam os brinquedos que havíamos pedido ao Papai Noel.

Quando chegamos à sala, porém, para nossa surpresa, pois quando saímos, meia hora antes nada tinha sido colocado embaixo da árvore e todos tinham saído, ali estavam vários presentes. Pudemos ainda ouvir o tilintar de sinos e a risada mais conhecida do mundo ao fundo: Ho, ho, ho!


João Luís de Almeida Machado

João Luís de Almeida Machado

Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Ver artigos

Avalie esse artigo


Assine nossa Newsletter