Por mais música na escola
Imagine um mundo sem música... difícil, não é mesmo?
Viver sem essa forma de expressão tão bela, que a todos cativa de algum modo é algo impensável desde que os primeiros sons ritmados foram criados pela humanidade. Batidas de tambor, o som suave das cordas de um violino, o dedilhar de um pianista habilidoso a executar uma sonata, a voz de um grande intérprete a dar brilho para um novo sucesso...
A música embala nossos sonhos, alimenta a alma, nos abraça nos momentos em que precisamos deste carinho, nos faz mover o corpo a dançar freneticamente, mexe com nossos sentimentos, revive momentos importantes ou decisivos de nossas vidas, nos acompanha no caminho de casa ou do trabalho, está pelas ruas a embalar pessoas dos mais diferentes estilos e preferências.
Nas escolas temos, eventualmente, em aulas de artes ou especificamente de música, ações que tentam embalar as novas gerações a conhecer ritmos, instrumentos, partituras, escolas musicais e fazer com que surjam bandas, grupos, cantores(as) e compositores(as).
Algumas até promovem o surgimento de rádios que durante os intervalos fazem uma seleção musical e oferecem aos ouvintes, no pátio, as preferências de toda a "galera", normalmente associadas ao hit parade que prevalece em rádios, internet ou televisão.
Há, até mesmo, iniciativas de escolas que ao invés de utilizarem sinais para a troca de aulas, alternam músicas de diferentes estilos enquanto alunos e professores migram de uma sala de aula para outra.
Concursos musicais são, também, para algumas instituições, parte do calendário e uma forma de estimular seus alunos a formar suas bandas e encarar o público. Desta forma, estimulam suas turmas a estudar esta tão formosa arte, conhecer letras, saber mais sobre rock, MPB, jazz, bossa nova, samba, rap, axé, sertanejo...
Iniciativas variadas como as citadas, sendo aplicadas todas de uma vez só, com a criação de bandas e o estudo em sala de aula sobre a música brasileira e mundial, geram um ambiente melhor, com mais interação entre alunos, envolvem os docentes, estimulam a arte, promovem o estudo de diferentes línguas, fazem com que novos talentos surjam, promovem o trabalho em grupo.
Há muitos e evidentes ganhos em iniciativas com música e, certamente, escolas que já atuam neste sentido, ganham não apenas no repertório que passam a oferecer aos seus alunos, mas passam a contar com um ambiente mais feliz, no qual as pessoas, embaladas pelas músicas, demonstram mais vontade e disposição. Se a música é capaz de promover, entre os animais, como nos currais de vacas leiteiras, uma sensação de maior paz, tranquilidade e, até mesmo, de maior produtividade, com o aumento real da quantidade de leite produzido por vaca, porque não teria para as pessoas, efeitos tão bons ou até melhores?
O uso de música é eficiente para acalmar bebês, pessoas com algum tipo de ansiedade ou stress ou, ainda mobilizar sedentários a prática esportiva, fazendo com que se sintam mais dispostos a realizar caminhadas, andar de bicicleta ou ir à academia, conforme comprovam estudos publicados por especialistas.
É preciso, no entanto, pensar no ensino de música com foco nas partituras, instrumentos, conjuntos, cantores e gêneros musicais, apresentando a história, os expoentes, os clássicos e os contemporâneos.
Música se faz, como toda arte criada e realizada pela humanidade, a partir de criatividade e talento, mas, principalmente, a partir de estudo, aprofundamento, prática e disciplina. Nenhum artista nasce pronto, precisa de apoio, incentivo e dedicação a sua arte, no caso, a música. É muito importante que diversifique seus conhecimentos, indo além daquilo que está em voga a partir da mídia, ou seja, superando preconceitos, indo buscar referências em diferentes nações, estilos e períodos históricos.
Conhecer os clássicos, como Bach, Beethoven ou Mozart é tão importante quanto visitar referências como Cole Porter, Pixinguinha, Chuck Berry, B.B. King, Maria Bethânia, Madonna ou Lady Gaga. Atentar para as letras de Tom Jobim, Beatles, Janis Joplin, Paulinho da Viola, Renato Teixeira ou Rita Lee é exercício igualmente necessário. Entender as mensagens contidas em músicas de artistas e grupos como U2, Caetano Veloso, Coldplay, James Taylor, Pink Floyd ou Legião Urbana, é igualmente parte de um exercício indispensável. Estudar os ritmos diferenciados e únicos que vem da obra de Cartola, Elis Regina, Paul Simon, Bruno Mars ou Olodum é algo que somente acrescenta conhecimento a arte musical a ser aprendida pelas novas gerações.
Projetos de música na escola, assim como de cinema, teatro, artes plásticas, poesia, dança e literatura deveriam ser obrigatórios. Sua inclusão nos currículos permite que os estudantes quebrem a rotina diária de trabalhos e estudos, mobiliza a criação, gera trabalhos em grupo, promove ganhos culturais evidentes, enriquece a capacidade de comunicação de todos e, além de todos estes ganhos, torna ainda mais feliz o ambiente para todos que ali frequentam. E quanto mais cedo isso começar, melhor ainda...
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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