E se tudo for apenas um sonho?

E se tudo o que nos rodeia for apenas produto da nossa imaginação?


Garota observando o horizonte

Fred se perguntava isso algumas vezes. Intrigado pelas aulas de Filosofia na escola, por alguns filmes que assistira, por livros que lera.

- Se é nossa imaginação que produz o cotidiano, como explicar a guerra? E a fome? As doenças? A corrupção? O analfabetismo?

Não se conformava com estas chagas que perseguem a humanidade desde seus primeiros passos no planeta. 

- São os pesadelos humanos que se configuram no cotidiano. Só pode ser isso. São as dores que temos traduzidas em flagelos tão grandes e devastadores. Uma criança abandonada, florestas em chamas, idosos sem atendimento médico a padecer em corredores de hospitais... 

Ao mesmo tempo queria entender como algumas vidas eram tão maravilhosas. Pessoas que conseguiam tudo o que tantos queriam em suas profissões ou intimidade. Gente que ganhava rios de dinheiro, fama e o topo do mundo. Atletas, músicos, empresários, artistas, políticos, cientistas que ganhavam prêmios e notoriedade, tornando-se semideuses contemporâneos enquanto a massa silenciosa girava as engrenagens que fazem o mundo funcionar...

- O que os fez conseguir tudo enquanto tantos lutam muito e não saem do lugar ou pouco conquistam?

Dizem que há forças superiores, Deus ou deuses que manipulam o destino e nos dizem por onde ir desde o momento em que nascemos. Mas que divindade decide dar a um ou a poucos tanto enquanto a milhões ou bilhões o que sobram são os restos deste farto banquete?

Fred tentava ir mais longe em seus pensamentos, divagava até mesmo sobre a existência destes seres sobrenaturais que controlam o movimento dos astros, as marés, o calor, o frio, as sombras e as luzes. Enquanto alguns falam de Deus ou deuses, há aqueles que pautam seu pensamento na lógica, na ciência, na racionalidade. Neste embate entre crentes e céticos não há espaço para vencedores, dizia para si mesmo, ciente de que religião e ciência não se excluem. Ao menos ele pensava dessa forma.

O mundo é, afinal, colorido ou monocromático. Vivemos o analógico ou o digital. O que de fato nos pertence?

As sociedades humanas, existem de fato ou podem também ser fruto de nossas divagações? Como explicar que muitas vezes é possível que estejamos a sonhar de olhos abertos diante de todos e de tudo ou mesmo diante de nada, se tudo isso for, de fato, fruto de nossa criação e imaginação.

Mas se apenas imaginamos tudo isso, de que modo concebemos tantos detalhes, tão complexos, que nos acompanham nas sequências deste filme pessoal que constitui a vida de cada um? Preste atenção... A música, os objetos, a geladeira de sua casa, seu cachorro, as crianças correndo no parque, o casal apaixonado a se beijar quando você passa por eles no corredor do shopping, os carros buzinando no congestionamento... Tudo isso e muito mais, em cores ou em preto e branco, está ali e você imaginou cada peça desse intrincado quebra-cabeças?

- Ou realmente está tudo lá e você através de seus filtros, dos sentidos que te pertencem e te orientam é que está lendo o mundo de acontecimentos, pessoas, coisas e tudo o mais que te rodeia?

Quando perguntava ao professor de filosofia como lidar com todos estes dilemas, o que lhe respondia o mestre Agostinho, com quem caminhava após as aulas, pelos corredores da escola ou mesmo nos belos jardins que circundavam a região onde viviam, a resposta era sempre igual:

- Viva com intensidade. Cada segundo de sua existência foi concedido a você para que descubra, conheça, sinta-se intrigado, pesquise, ame e realize. Não se distancie da verdade, da justiça, da honestidade. Persiga a bondade, o amor e a paz. Construa um mundo melhor em cada ação que realizar. Tenha consciência de que nem tudo vai dar certo ou funcionar como deseja, mas os erros nos ajudam a crescer. Não se iluda com as vitórias, celebre as conquistas, mas não se deixe embevecer pelos méritos a ponto de se perder na vaidade ou no orgulho. Acima de tudo, seja você!

Quando ouvia estas palavras, Fred sabia que seu professor tinha razão. O mundo estava ali, diante dele, e ele certamente queria muito fazer a diferença. Fosse tudo apenas um sonho ou realidade, Fred sabia que era um protagonista e que, como tal, tinha que ir para a vida...

E você, qual é seu sonho? Como é sua vida? Está fazendo a diferença? Tornou o mundo melhor com sua presença por aqui? Nunca desista! Transforme seus sonhos em realizações.


João Luís de Almeida Machado

João Luís de Almeida Machado

Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

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