O que leva um adolescente ao suicídio? O que fazer quanto a isso?
Como entender os motivos e lidar esse fato que preocupa famílias e escolas?
A recente divulgação de prestigiada instituição de ensino paulistana, se pronunciando quanto ao suicídio de 2 de seus alunos do Ensino Médio no curto espaço de tempo de aproximadamente 10 dias evidenciou a grave situação e colocou em foco, para toda a sociedade, importante discussão acerca do tema. Casos recentes ocorridos em outras escolas da capital paulista também vieram à tona e, com isso, o assunto ganhou espaço nas mídias impressas e sociais, despertando a atenção de famílias, educadores, psicólogos e de toda a sociedade.
Os dados brasileiros relativos a mortes por suicídio entre adolescentes e jovens no país revelam preocupante crescimento nos últimos anos. Em 2015, segundo dados do Ministério da Saúde, 722 adolescentes com idades entre 15 e 19 anos se suicidaram, ficando este tipo de morte atrás apenas de agressões/violência, acidentes de trânsito, câncer e doenças do aparelho circulatório. Os jovens com idades entre 20 e 29 anos que cometeram suicídio em 2015 foram 2.214, colocando este motivo de óbito entre os mais relevantes também para esta faixa etária.
No Brasil, em 2015, foram mais de 11 mil pessoas a cometerem suicídio, aumentando a taxa do país para 5,7 por 100 mil habitantes, ocupando a 3ª colocação geral entre os maiores motivos de morte no país, dados que, conforme mencionado, preocupam as autoridades por serem os piores índices auferidos nos últimos 5 anos.
O que leva um adolescente ou um jovem a tirar a própria vida?
Psicólogos, educadores, sociólogos e outros especialistas, ao avaliar a questão do suicídio adolescente, evocam fatores variados que podem ocasionar tal ação por parte de uma pessoa. Entre eles, podem ser destacados:
- Dificuldades para se integrar aos grupos sociais de seu próprio convívio;
- Problemas de relacionamento familiar;
- Cobranças excessivas por parte de familiares, terceiros ou de si mesmo;
- Estresse, ansiedade, síndromes de variada estirpe e uso de medicamentos fortes que alteram o comportamento;
- Excesso de atividades;
- Comparação entre si mesmo, familiares e colegas quanto a resultados e qualidade de vida;
- Insegurança e medo diante das perspectivas futuras;
- Bullying, Cyberbullying e outros tipos de agressão presencial e virtual.
Entre todos eles há alguns pontos comuns, relacionados principalmente a dificuldade de estabelecer diálogo, de criar vínculos, de se relacionar de forma aberta e franca com outras pessoas. A ausência ou distância dos entes familiares, por conta dos afazeres profissionais, da correria da vida, da agenda sempre carregada de todos os membros da unidade familiar acarreta dificuldades que não são supridas, de acordo com os especialistas, por qualquer outra iniciativa dos envolvidos. Viagens, presentes, contato virtual, conforto material ou qualquer outro tipo de mimo e agrado não substitui a presença física, o carinho, o amor, o contato presencial, a troca interessada e genuína de ideias e informações por meio do diálogo.
O mesmo ocorre em relação a integração ao grupo de convívio. Dificuldades relativas ao estabelecimento de relações de amizade sincera, que envolva participação e presença em situações e eventos fora da rotina relacionada ao ponto de encontro das pessoas (escola, igreja, equipe esportiva, curso de línguas...), com a possibilidade dos adolescentes conversarem abertamente sobre si mesmos, seus medos, os desafios que têm pela frente, as dificuldades que se colocam ao longo de seu caminho, suas realizações e vitórias obtidas, acarretam insegurança, medo, desconfiança de si mesmos, aumento da ansiedade, busca de defeitos que justifiquem a distância dos outros, criação de estereótipos que humilham e ofendem os envolvidos, afastando-os ainda mais de seus pares e levando-os a um isolamento que pode ser nefasto.
Iniciativas como aquelas adotada pelo colégio paulistano após o primeiro suicídio de aluno registrado, e reforçadas após a morte do segundo aluno, passando a oferecer apoio psicológico para os demais estudantes e também para professores e funcionários são de grande importância, assim como, ao longo do período letivo, contar com apoio psicopedagógico, por parte da orientação educacional, que permite aos profissionais envolvidos, perceber problemas, dificuldades e situações específicas em que há necessidade de maior apoio familiar e de outros profissionais externos. Cabe também aos professores e demais profissionais da escola atenção aos seus alunos, visando perceber quando casos de comportamento diferente, quando se evidencia afastamento, isolamento ou tristeza, notificar a direção, a coordenação e a orientação educacional para que medidas práticas sejam tomadas e que, com isso, se evite o agravamento dos casos.
Prevenir é sempre muito melhor que remediar. O dia a dia das escolas, intenso como é, por vezes, acaba fazendo com que situações problemáticas não tenham a atenção e as medidas de apoio necessárias a serem ativadas.
A insegurança e a ansiedade acontecem em qualquer faixa etária, no entanto, entre os adolescentes, em meio a um turbilhão de transformações hormonais e corporais, sendo mais cobrados quanto a seus resultados escolares e demais atividades, passando por comparações com seus pares que por vezes os levam a situações de real desconforto (para dizer o mínimo), vivendo seus primeiros amores e as consequências de seus atos ou da ausência dos mesmos, tendo sua sexualidade aflorada e, ainda, sem tanto apoio familiar como ocorria, anteriormente, na infância, tornam tais situações ainda mais presentes, fortes e influentes nas ações e pensamentos diários.
A adolescência demanda presença, partilha, compreensão, orientação, rumo em relação as coisas da vida. Se os pais/responsáveis e a escola, tão presentes nesta etapa da vida dos jovens de 15 a 19 anos estão somente aparentemente próximos, mas não realmente atentos e participativos quanto as necessidades e situações da vida destes garotos e garotas, os resultados podem ser ruins para eles.
Perceber que algo mudou depende desta atenção. Os acontecimentos cotidianos irão demonstrar que há algo errado. Isolamento, falta de diálogo, distanciamento de colegas, não participação em eventos de pares ou da escola, alteração nos hábitos alimentares, excesso de tempo dispendido com recursos digitais, emagrecimento evidente, alterações físicas que evidenciem uso de álcool, tóxicos ou medicamentos não prescritos, agressividade no contato com familiares ou educadores... tudo isso é demonstrativo de que há algo errado, de que o adolescente precisa de apoio, que o diálogo precisa ser estabelecido. E é função primordial da escola e da família suprir este jovem com o necessário apoio emocional, oferecendo apoio, carinho, presença e estando disponível sempre que necessário.
Não há nada mais triste neste mundo que uma pessoa tirar a própria vida, desacreditada que está, em relação as pessoas e a tudo que a cerca, sem perspectiva e com medo e insegurança. Não podemos permitir que isso aconteça, temos que estar alertas - famílias e escolas - assim como todos os grupos de apoio disponíveis, para que tragédias desta natureza, não aconteçam, possam ser evitadas e que, com isso, tais pessoas possam superar suas dificuldades e realizar-se em suas existências.
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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