O que é insanidade?

O labirinto tênue entre si e sua mente


Um homem com os olhos fechados

Precisamos resolver nossos monstros secretos, nossas feridas clandestinas, nossa insanidade oculta. Não podemos nunca esquecer que os sonhos, a motivação, o desejo de ser livre nos ajudam a superar esses monstros, vencê-los e utilizá-los como servos da nossa inteligência. Não tenha medo da dor, tenha medo de não enfrentá-la, criticá-la, usá-la. (Michel Foucault)

Não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes. (Albert Einstein)

A única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum. (Millor Fernandes)

O tic tac do relógio anuncia o início do dia e de toda a loucura a ele relacionado. Ao colocarmos os pés para fora da cama iniciamos uma vida que tantas vezes é nossa mas não nos pertence, não representa aquilo que desejamos, o que de fato gostaríamos de estar fazendo.

A compreensão de Albert Einstein deve certamente derivar dos anos em que passou a trabalhar como funcionário público, num espaço onde o movimento todo ele burocrático o oprimia, do qual se libertou ao se refugiar na física e nos estudos que fizeram com que chegasse as célebres teorias que mudaram os rumos da ciência no planeta.

Há entre nós muitos que julgam Einstein louco, insano ou, simplesmente, de outro planeta, para explicar como alguém consegue chegar a tal nível de saberes elevados. Certamente isso deve fazer sentido, se é que fazer sentido significa lucidez num mundo de tantas e tamanhas loucuras.

A tênue linha que separa as pessoas que estão fora ou dentro do hospício pode nem ao menos existir. Quem garante que os loucos internados é que são insanos? Será que eles não estão a se proteger da maioria, os verdadeiros malucos, que perambulam fora dos muros?

A insanidade é medida em números, produtividade, produção, riqueza, salários, lucros, desempenho, saldos positivos ou negativos que encarceram os homens e os fazem escravos de si mesmos ou de outros, entregues a sanha daqueles cujas fortunas, apesar de gigantescas após tantas e tantas pilhagens ao planeta e a mais valia do suor alheio, nunca se satisfazem.

Imagine a metafórica imagem de um homem a comer desmesuradamente, alimentado por inúmeros serviçais, sem nunca parar, engordando deveras a cada bolinho ou coxa de frango que ingere e que, ainda assim, a explodir e a passar mal, pois que tanta comilança em algum momento fere até os mais viris e animalescos estômagos... Sim, estes são os insanos contaminados pela febre do capital ininterrupto, infectados pelo vil metal...

E quem, como eles, não consegue tanta comida mas ainda assim se ilude com a ideia da fome que nunca é saciada, sem contas correntes polpudas, supridos pelo dinheiro de plástico que não tem ou que se comprometem a pagar em prestações que irão durar a vida toda e mais 30 anos, são também doentes mentais sem que se deem conta disso, entregues aos urubus que promovem o crédito em busca dos juros extorsivos que os levarão para as profundezas do inferno.

Do lado de fora do sanatório tem muito mais gente, estes sim, os loucos verdadeiros, conforme destaca Millôr, e seu cáustico e certeiro humor, fórmula sagrada para tirar de si mesmo um pouco desta insanidade inglória.

A liberdade, algo que pensamos saber definir, mas que nos fogem as palavras quando tentamos abordar tal tema, conforme já nos ensinou Cecília Meirelles, seria nos conformes de Foucault, certeira receita para que a loucura não nos tomasse a todos de forma inconteste nestes tempos febris de conexão total.

Deixamos de ser para ter. Pensamos lograr êxitos quando vendemos produtos e ideias que muitas vezes não são nossas ou que tampouco representam aquilo em que de fato acreditamos. Olhamos para os campos vizinhos e vemos a pastagem verde, mais farta e bela do que aquela que conseguimos obter em nossas terras. Invejamos, nos remoemos, nos doemos, desejamos o que é alheio e a doença torna-se ainda maior. A felicidade mora ao lado e a infelicidade reina em nós mesmos enquanto assim pensarmos.

Não importa se somos sãos ou insanos. Os rótulos não podem nos afetar. O que é certo é que precisamos ser quem somos, viver nos conformes daquilo que acreditamos, trabalhar por que isso nos faz bem, amar sem amarras, rir escancaradamente se é isso que queremos, realizar os sonhos pequenos, médios ou grandes que temos...


João Luís de Almeida Machado

João Luís de Almeida Machado

Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

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