Dialogando com Sócrates

Para Sócrates, o reconhecimento da ignorância é a chave para a busca da verdade


Representação artística de Sócrates, pouco antes de ingerir a cicuta (sua morte).

"Fedro, meu amigo! Por onde você andou? E para onde você está indo?" (Sócrates, em "Fedro", de Platão)

Parecem tão banais e corriqueiras as frases proferidas pelo filósofo grego Sócrates, não é mesmo? Mas olhe além daquilo que elas trazem de mais imediato. Pense em como podem expressar também o sentido da construção do ser, em andamento, dentro daquilo que chamamos de passado, presente e futuro.

Ao se dirigir a Fedro, com quem posteriormente trava diálogo mais alongado sobre as relações entre as pessoas, Sócrates lhe pergunta por onde andou. Num primeiro momento podemos pensar nisso como sendo apenas um questionamento acerca daquilo que se passou mais proximamente no tempo com Fedro. É o que a maioria das pessoas pensaria. Mas caminhe na direção de um andar mais para trás no tempo...

Pense em todas as andanças da vida até o presente momento. Vá conectando os pontos, como Steve Jobs pediu aos universitários de Stanford que fizessem e, com isso, descubra-se. Permita-se perceber quem é você a partir de todos os passos que realizou. Veja por onde passou, com quem conviveu, que pessoas o influenciaram, quais livros marcantes ajudam a definir você. Lembre dos filmes que são referências, das músicas que estão em seu Ipod e em sua mente, dos lugares em que viveu, das viagens que fez. Quais aulas permanecem na memória e que professores fizeram sua escola ser especial?

Estes caminhos ampliados a partir do questionamento de Sócrates precisam ser feitos de tempos em tempos para que saibamos quem somos, aonde estamos e para onde queremos ir hoje e no futuro. Ajudam você a entender suas escolhas: pessoais, emocionais, profissionais, os livros que lê, o destino de suas próximas férias, as músicas que escuta, os filmes que assiste, o lugar em que trabalha, os amigos que têm, a família que formou (ou que não formou).

São orientadores, igualmente, dos destinos que deve escolher, que incluem permanência ou mudança. E não devemos pensar apenas naquilo que é mais imediato, seja a troca do carro, a escolha de um novo endereço profissional ou mesmo se irá dar uma volta ao mundo em 80 dias ou menos, entrando talvez num ano sabático. É para pensar se você está feliz com o fato de ser quem você é! E se há pontos que deixam a desejar, o que é preciso fazer para que as coisas melhorem!

Há um incitamento a desconstrução do nosso ser nas palavras de Sócrates ainda que não pareçam conter essa provocação a princípio. Mas é nas entrelinhas que podemos perceber isso quando logo em seguida a primeira questão ele logo arremata trazendo a segunda, em que pergunta para onde está indo Fedro, seu interlocutor.

Nesse momento fica claro que Sócrates queria mais do que o destino imediato de Fedro. Indo para qual futuro? A sua construção do ser, está lhe mandando para qual amanhã? Já pensou nisso ou não se preocupa em saber? O que você será amanhã depende essencialmente das realizações, passos e jornadas que empreende hoje e a cada dia de sua vida.

Num contexto mais materialista como aquele em que vivemos hoje refletimos sobre isso de forma mais detida e concreta pensando na acumulação de recursos para garantir nosso bem-estar e conforto na velhice. Tente vislumbrar sua vida além da acumulação de recursos e acumulação de patrimônio. Isso deve valer tanto para estas questões quanto, e principalmente, para seus relacionamentos, realização profissional, estudos, saúde...


João Luís de Almeida Machado

João Luís de Almeida Machado

Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

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