Fazendo as provas do ENEM
O Enem é a prova pré-vestibular mais longa e decisiva do país. Calma, controle, leitura dos enunciados e a organização de tempo são essenciais para ter sucesso na prova
Respirei fundo. Caminhei portão adentro sem olhar para trás. Meus pais ficaram ali, a me observar, na torcida por um bom desempenho na prova. Era apenas o primeiro dia. Seriam algumas horas de avaliação focada em Ciências Humanas e Ciências da Natureza. No domingo teria pela frente matemática e línguas, além da redação. Havia estudado muito estes assuntos no Ensino Médio e depois de alguns meses de curso pré-vestibular me sentia preparado para o desafio. Sabia que os inscritos eram mais de 8 milhões, recorde do Enem até então, mas queria muito aquela vaga para uma universidade pública de ponta. Meu sonho era ser engenheiro.
Amigos, como o Rodrigo, o André, a Amanda e a Fernanda tinham outros sonhos. Queriam passar no Enem para cursar direito, administração de empresas, medicina e agronomia. Estudamos juntos a vida inteira e agora cada um ia, provavelmente, para um canto do país.
Conferi os materiais que precisava ter em mãos, lembrando bem das instruções que lera no site, tinha comigo 2 canetas pretas, levava os documentos requisitados para minha identificação e também água e alimentos. Nada muito pesado: uma maçã, barra de cereais e algumas bolachas salgadas.
Trouxera meu celular mas o desliguei desde o momento em que entrei na escola pública onde iria realizar a prova. Tive que colocar num saco plástico e lacrar. Pensei brevemente no tamanho deste exame, aplicado em todo o Brasil, inúmeras escolas, várias pessoas envolvidas para que aquele momento pudesse ser vivenciado por jovens de diferentes cidades e regiões…
Retornei o foco para a prova. Achei a sala onde deveria fazer a prova. Conferi meu nome na lista, lá estava: “Luís Eduardo Pontes”. Fui para a sala 16, conforme mapeado, encontrei a carteira com meu nome e lá sentei. Faltavam alguns minutos para o fechamento dos portões, algumas pessoas chegaram apressadas, ao meu lado tinha um japonês, do outro uma bela garota. Não deixei que isso me incomodasse ou distraísse.
Fiquei lembrando das dicas dos professores, como ler atentamente as questões para saber exatamente qual ideia ou conceito está sendo explorado, perceber que há uma preocupação em relacionas conteúdo com a realidade, entender que há questões em que duas ou mais matérias estão sendo trabalhadas, observar e realizar plena leitura de mapas e imagens, analisar charges e músicas que eventualmente apareçam nas questões…
Mantive a tranquilidade antes do início da prova. Durante a resolução fiquei atento e focado, ou seja, procurei resolver pensando todas as variáveis e controlando o tempo para não me perder. Quando me deparava com alguma questão mais difícil, deixava para depois e avançava nas demais, como havia sugerido o Marcão, professor de história.
Utilizar o tempo com sabedoria era um mantra da Márcia, que dava aulas de biologia. O Sérgio, que ensinava física para nós ficava o tempo todo alertando a galera para a atenção nos cálculos e fórmulas. A Maria Rita, falava sempre da necessidade da criatividade na redação. O Álvaro, de geografia, batia na tecla da leitura atenta de dados em tabelas e gráficos, que sempre apareciam em questões da sua área de conhecimento.
Lembrar dos professores, cada qual com seu jeito, uns mais gozados como o Alexandre, de matemática, outros mais sérios, como era a Daniela, que trabalhava literatura. Todos especiais, mesmo aqueles com os quais não simpatizávamos tanto, pois foram suportes importantes para nossa formação e preparação para o Enem e para a vida. Estas lembranças me tranquilizavam e me faziam mais sereno para a resolução das questões.
Ao término dos dois dias de exame, quando vi meu pai e minha mãe chegando para me pegar, pensei em como todo aquele esforço valera a pena. Não tinha ainda os resultados, mas a certeza de que fizera um bom trabalho e que seria um forte candidato as vagas quando a publicação dos resultados ocorresse.
Depois do Enem fiz outros vestibulares, com a mesma confiança e tranquilidade. Provas difíceis como a da Fuvest, Vunesp e Unicamp estavam em meu caminho. O apoio da família, as aulas de revisão no curso, os estudos em casa, as listas de exercício resolvidos, dúvidas sanadas com o apoio de vídeos na internet, em especial no YouTube Edu, foram me fortalecendo muito. Tinha comigo que a concorrência era dura, mas que bem preparado quanto aos conceitos estudados, minhas chances eram grandes.
Os gabaritos não oficiais, com a resolução das provas pelos professores do sistema de ensino em que estudava saíam na segunda-feira, logo após os exames. No caso do ENEM, com a publicação oficial das provas resolvidas, vi que tinha obtido nota alta, o que certamente iria me abrir as portas para escolher uma boa universidade.
A confirmação veio na virada do ano, com resultados dos outros exames que prestei. Minha vida, segundo meus pais, estava apenas começando. Uma nova etapa agora, com os estudos no ensino superior, a vida fora de casa, a formação profissional, novos amigos, novas responsabilidades.
Ficava para trás uma etapa boa da vida. Meus amigos também haviam passado no Enem e iriam para outras cidades. Nos reunimos para celebrar a vitória da turma, para as despedidas, já marcando reencontros futuros. Havíamos chegado lá!
João Luís de Almeida Machado
Consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.
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